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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Wednesday, November 20, 2013

Van Gogh







A Casa dos Espíritos

Desde que li Paula, nutri uma paixão avassaladora por Isabel Allende. Descobri na biblioteca de minha mãe, várias obras da autora. Outras tantas eu fui adquirindo nas livrarias e sebos. Dos achados nas prateleiras de mamãe, deparei-me com um exemplar de 1982, de A Casa dos Espíritos. Lembrei que quando ainda nova, lá pelos 15 anos, tentei ler essas linhas. Não deu certo. As letras miúdas cansaram meus olhos adolescentes. Fiquei no filme, lançado em 1993 e que faz parte de meu acervo visual.

Após longos 19 anos, senti uma atração pela escritura. Puxei da prateleira, pois agora o livro é de minha posse, e deliciei-me. Como uma criança que redescobre o sabor de uma bala de goma vermelha, lambuzei-me com as 364 páginas de Allende. A Casa dos Espíritos foi o primeiro alfarrábio da autora e apresenta forte presença de gêneros discursivos, dando um tom jornalístico ao final, quando resgata o governo socialista de Salvador Allende e os primeiros anos da ditadura de Pinochet, no Chile. Nesse texto, e em todos os outros, Isabel Allende traz a recusa de postar-se como uma poetisa hermética de versos bonitos, compreendidos apenas pelos amigos próximos.

Durante a leitura, impossível não remeter meu imaginário a algumas cenas do filme. Afinal, foi ele quem me fez companhia em várias noites juvenis. Pela estética, pela história e pela minha aproximação, não apenas por narrativas amorosas, mas por identificação pessoal com aqueles que acreditam em um mundo paralelo ao nosso, povoado por espíritos amigos. Sentindo tantas afinidades, achei as linhas que povoaram minha mente, esteticamente mais belas que as cenas da película.

A narrativa composta por três vozes, a de Clara, protagonista da história, Esteban Trueba, seu consorte e Alba, neta do casal, filha de Blanca com Pedro Terceiro, trazem uma fábula que me soa como uma biografia. Clara, a irmã mais nova de Rosa, vivia a sombra da beleza da consanguínea, marcada por uma beleza mística, de longos cabelos verdes. Essa última era noiva de Trueba e vivia a bordar seres imaginários. Clara apenas era a menina de fios loiros, dona do canino Barrabás. E é a chegada do animal que inicia e encerra o livro. O progenitor de Clara, interessado em fazer parte da política chilena, principia seus movimentos políticos e é presenteado por uma bebida envenenada, que é tomada por Rosa. A morte, prevista por Clara, fez a menina ficar sem falar e marcou o primeiro, de tantos momentos negros e de silêncio que passaria em sua vida.

Trueba, por sua vez, sentiu-se viúvo antes mesmo de casar com sua amada Rosa. Largou a vida na mina, tratou de levantar a fazenda Las Tres Marías, que estava abandonada e era de propriedade de sua família, e garantir financeiramente o sustento de sua mãe doente e de sua irmã dedicada, Férula. A vida no campo lhe gerou solidão, o que fez com que dormisse com todas as mulheres da propriedade, familiares dos colonos que para ele trabalhavam. O resultado foi à geração de inúmeros filhos bastardos pela propriedade. Apenas um deles levou seu nome: Esteban García. Cansado de tanto isolamento e de noites avulsas, ele decide voltar à cidade e encontrar uma mulher para desposar. E nem a diferença de idade impediu a união de Trueba e Clara.

Diferentemente do filme, na história original posta por Allende, Trueba amava Clara com todas as suas forças. E Rosa era um passado, mesmo mal enterrado, no coração do homem. A união do casal fez brotar uma amizade forte entre Clara e Férula, após a perda da mãe, e resultou no nascimento de Blanca, a primeira filha do casal. Dessa união, ainda nasceram os gêmeos. E, assim como no filme, Clara conversava com espíritos, tinha premonições e fazia anos a fio de silêncio quando algo a machucava profundamente. Tinha sido assim na morte da irmã Rosa e, durante sua vida de casada, quando Trueba descobriu o envolvimento da filha Blanca com Pedro Terceiro, filho de Pedro Segundo, o braço direito do patrão de Las Tres Marías.

Na escritura, Trueba força a filha a casar com trambiqueiro um francês, para esconder a gravidez, resultado do amor com Pedro Terceiro. Mas, quis o destino que Clara voltasse da França para deixar vir ao mundo Alba. Pela filha, a vida de Clara ficou dedicada aos cuidados do lar e de seu coração sem amor, longe de Pedro Terceiro.

Tudo parecia organizado, quando a casa da esquina – feita especialmente para Clara – recebia a visita das irmãs Mora para que os espíritos fossem evocados. Um vai e vem de pessoas carentes fazia parte da rotina da família, uma vez que Clara possuía instinto social e Trueba passou a meter-se com política. Até, Blanca reencontrar-se com Pedro Treceiro. E, nessas idas e vindas políticas, retratadas na obra, que circulavam entre o socialismo e a ditadura, Trueba se viu viúvo e único a ter a chance de ajudar o grande amor de sua filha. O casal de enamorados, abençoados por Trueba, partiram para outras terras. Ao velho viúvo restou o final da criação de Alba. E, diferente do filme, ela foi quem teve envolvimentos políticos, também por amor à Miguel, sendo levada por homens da ditadura de Pinochet, ficando nas mãos de García, seu tio bastardo. A tortura foi ao ápice, com choques elétricos, surras e abusos sexuais. Como o progenitor da família havia perdido seu poder, contou com a sorte e a ajuda de sua ex-amante, para livrar a neta das garras ditatoriais.


A lição de Trueba, não vista no filme, mas escriturada por Allende, se concretiza, após entrar em ação a maldição da irmã Férula, expulsa por ele de sua casa, por seu relacionamento estreito com Clara. E foi velho e encolhido, que Trueba morreu nos braços da neta. Seus dias de demônio haviam ficado para trás, com a perda da esposa, quando precisou rever seus valores para ajudar sua filha e sua neta, que viviam amores e dores. E, como começa a história desse livro, com a chegada de Barrabás, encerra-se, quando Alba lê nos livros de anotar a vida, feitos por Clara, sobre a chegada do cachorro fisicamente mal composto, na casa de sua família. 












Thursday, October 24, 2013

Talk show pela conscientização

Que pedofilia é crime, todo mundo sabe. O que as pessoas desconhecem é como identificar o perfil de sujeitos que utilizam essa prática, que tem sido facilitada, principalmente, na Era em rede.

Para debater esse assunto delicado, o Talk Show foi o formato escolhido. Unindo a leveza da atração e a seriedade do assunto, a difusão das informações e a troca de experiências referente ao tema, serão mediadas por Casé Fortes, Promotor da Infância e Juventude do Estado de Minas Gerais.

O evento tem entrada franca e acontecerá no sábado, dia 26 de outubro, das 18h30min às 21h30min, no Shopping Paseo, localizado na Av. Wenceslau Escobar, 1823, bairro Tristeza, em Porto Alegre/RS.

Durante a ação, Fortes, que é Coordenador do Movimento Nacional Todos Contra a Pedofilia, falará também sobre a Campanha local intitulada ‘Todos Contra a Pedofilia na COPA 2014 – Porto Alegre Zero Pedofilia’, que é organizada aqui na capital pelo Instituto Visão Social e Fundação O Pão dos Pobres.

Além disso, os presentes poderão prestigiar a apresentação dos músicos Edu Garcya, Rodrigo Munari e Tássia Minuzzo. No local será realizada a troca solidária das camisetas com o mote da campanha, com o objetivo de angariar recursos para as próximas ações.

O evento conta com apoio do Blue Tree Milenium Flat Porto Alegre, Café Du Soleil, do CIEE/RS, GAB Sul, Garimpo Brasil Soluções em Comunicação e Eventos, Instituto Eckart, Paseo Zona Sul, Soleil Cultural 360º, Toda Vida e Programa de Rádio Visão Social. A realização é do Instituto Visão Social, da Fundação O Pão dos Pobres e Todos contra a Pedofilia.

Serviço:

O QUE: Talk Show ‘Todos Conta a Pedofilia’ com
apresentações dos músicos: Edu Garcya, Rodrigo Munari e Tássia Minuzzo.

QUANDO: 26/10

HORÁRIO: Das 18h30min às 21h30min

ONDE: no Shopping Paseo - Av. Wenceslau Escobar, 1823,
Bairro Tristeza, em Porto Alegre/RS



ENTRADA FRANCA






Sunday, September 08, 2013

Pessoa


Mafalda


O Príncipe da Névoa




Há bastante tempo sem postar aqui no blog, retomo minhas escrituras com um autor que caiu no meu gosto há dois anos: Carlos Ruiz Zafón. Desde que li A Sombra do Vento, percebi na contemporaneidade, um autor que remete a grandes discursos literários, coisas do século XIX.
Em A Sombra do Vento, fiquei apaixonada e, tudo que estivesse disponível de Zafón, queria ler. O mesmo deu-se quando me deparei com o Príncipe da Névoa, em uma livraria. Já fazia alguns meses que tinha adquirido a obra e agora me pus a ler.
Nessa obra, fiquei cara a cara com a história da família Carver, que no verão de 1943 deixa a cidade da guerra – nessa data, a Alemanha vivia o terror da Segunda Guerra Mundial, que ceifava vidas e arruinava negócios, ou seja, eliminava todas as possibilidades de existência humana – indo com sua família viver na costa leste do Atlântico. Assim, Maximiliano Carver resolve estabelecer sua relojoaria em um local que era carente de tal negócio. Andréia, sua esposa e seus filhos, Irina, Alícia e Max não tiveram escolha, se não fazer as malas.
Navegando pelo oceano azul, a família aponta no local de sua nova morada e, já de entrada os mistérios da localidade se fazem presentes. E, como não poderia deixar de ser em um romance de Zafón, o suspense toma conta da narrativa.
Max, ao explorar a cidade de bicicleta, conhece Roland, com que firma amizade. Em suas idas a praia com o amigo, Max passa a levar de companhia a irmã Alicia. Enquanto os rapazes mergulhavam para explorar o Orpheus, barco naufragado naquela costa, Alicia alimenta seus sonhos juvenis com o amigo do irmão. Sonhos que não demoram a virar realidade, levando Alicia passa a explorar as profundezas do mar ao lado do amado e o frenesi adolescente.
Nesse ínterim, Maximiliam descobre, na garagem da casa, vídeos feitos pela família Fleischmann. A residência fora construída por Richard, famoso cirurgião de Londres, em 1928. Ainda como na ocasião de sua construção, a moradia continuava sendo excêntrica aos olhos dos moradores locais. Na casa da praia, viveu Richard e Eva, sua esposa. A casa havia sido vendida após a morte do filho do casal, Jacob e, na sequência do próprio médico. De Eva, ninguém sabia. E, é essa história e essa casa, que envolvem todo o mistério da trama de Zafón.
Passado algum tempo de amizade entre os jovens, e após Max ter descoberto no jardim de sua residência o cemitério de estátuas mutantes, é inevitável o encontro dos adolescentes com o avô de Roland, Victor Kray. Situações sinistras estavam acontecendo com Max e sua família desde não só a descoberta das estátuas em seu jardim, como das investigações no Orpheus. Uma coisa estava relacionada à outra, assim como a história de Kray, também faroleiro da região, Roland e a família Fleischmann.
Com um mal súbito sofrido por Irina, a filha mais nova da família Carver e a estadia forçada dos pais com a garota no hospital, a liberdade se fez à Alicia, Max e Roland. Para tentar desvendar os mistérios que envolviam os três, ligando-os com o Príncipe da Névoa, que habitava o Orpheus e tantos outros lugares da cidade, foi preciso esforço e saúde de todos, juntamente com o faroleiro.
No desenrolar da escritura, vem a tona a identidade de Roland, que era Jacob, o filho supostamente morto dos proprietários da casa da praia onde hoje vivia a família Carver. Seu não parentesco de sangue com Kray, mas somente de coração, já que esse tinha vivido na adolescência um triângulo amoroso com Eva e Richard. Esse último fez, então, um pacto com Cain, Príncipe da Névoa, para tirar de circulação Kray e casar-se com Eva. Em troca do favor, à Cain seria dada a vida do primeiro filho do casal. E, foi para driblar esse escambo, que a vida dos três une-se novamente e envolve, anos depois, Max, Alicia e Roland.
Mais um romance de mistério de Zafón, destinado ao publico juvenil, mas com ideias de atingir todas as faixas etárias para consumo discursivo. Deixa a desejar, novamente, por ser deveras fantasioso e, por ser o Príncipe da Névoa, composto fisicamente por água. Dentre outros imaginários pueris. Talvez por isso, o autor tenha deixado para publicar a contento essa obra, após sua afirmação com A Sombra do Vento. Vale a leitura pelo envolvente enredo, e para quem gosta de ficção ao extremo, somado a boas doses de mistério. A obra não traz uma linguagem tão rebuscada como A Sombra do Vento, e o Anjo de Vidro, mas confesso que fiquei surpresa ao deparar-me com a palavra “bocarra”, a muito extinta do vocabulário literário. Acho que Zafón poderia ter dado mais por essas linhas. Igual, ainda pude me deparar com belos parágrafos, bem redigidos se comparados a ilusória história.  



Confira alguns deles:


“Enquanto os outros dormiam, esperou a chegada inevitável daquele amanhecer que marcava a despedida final do pequeno universo que tinha criado para si mesmo ao longo dos anos. Passou aquelas horas em silêncio, estendido na cama com o olhar perdido nas sombras azuis que dançavam no teto de seu quarto, como se esperasse que se transformassem num oráculo capaz de desenhar seu destino daquele dia em diante.”

“Soube que não importava qual era o destino daquela viagem, nem em que estação o trem iria parar; daquele dia em diante, nunca mais viveria num lugar onde não pudesse ver, toda manhã ao acordar, aquela luz ofuscante que subia até o céu como um vapor mágico e transparente. Era uma promessa que fazia a si mesmo.”

“O relógio não estava desregulado; funcionava perfeitamente, mas com uma peculiaridade: andava para trás.”

“Vestiu-se em silêncio, desceu a escada com cuidado, para não acordar o resto da família, e foi para a cozinha. As sobras do jantar da noite anterior permaneciam na mesa de madeira. Abriu a porta e saiu para o pátio. O ar frio e úmido do amanhecer mordia a pele.”

“Uma densa névoa azulada se arrastava do mar até a cabana como um espectro ofuscante, e Alicia ouviu dezenas de vozes que pareciam sussurrar dentro da neblina. Fechou a porta com força e se apoiou contra ela, decidida a não se deixar levar pelo pânico. Sobressaltado pelo ruído da porta batendo, Roland abriu os olhos e levantou com dificuldade, sem entender muito bem como tinha chegado lá.”

“O tempo, meu caro Max, não existe: é uma ilusão. Até o seu amigo Copérnico teria descoberto isso se tivesse tido tempo, justamente. Irônico, não é mesmo?”


“Roland lutou contra a dilacerante agonia que atormentava sua perna e procurou o rosto de Alicia na penumbra. A garota estava de olhos abertos e se debatia à beira da asfixia. Não poderia conter a respiração nem mais um segundo e as últimas borbulhas de ar escaparam de seus lábios como pérolas portadoras dos instantes finais de uma vida que se extinguia.” 

Friday, April 26, 2013

Onde a Esperança se Refugiou


Porto Alegre lança exposição “Movimento de Justiça e Direitos Humanos – Onde a Esperança se Refugiou”, que faz revelações inéditas em resgate histórico da luta contra as ditaduras da América Latina.


Com depoimentos inéditos de sobreviventes, e documentos do acervo do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), a exposição busca resgatar para as novas gerações, a história da resistência ao terrorismo de Estado que, através de aparatos repressores oficiais e clandestinos, promovia prisões ilegais, tortura, morte e desaparecimento de pessoas.

A mostra apresenta o papel do MJDH no processo de resistência às ditaduras da América Latina, fazendo um recorte de tempo-espaço a partir dos anos 1960 até os dias atuais, valorizando as suas dimensões históricas, políticas e pedagógicas, com o objetivo de levar às novas gerações informações, consciência e experimentação desse período conturbado e sangrento da America Latina.

Organizada e dividida em cinco eixos, a mostra traz políticas de memória com um acervo de mais de 2 mil fotos desse período, incluindo 366 rostos das vítimas da ditadura militar no Brasil.

Data: 26 de abril a 5 de maio

Horário de visitação: segundas a sextas-feiras, das 14h às 19h; sábados, domingos e feriados das 9h às 19h

Onde: Centro Cultural Usina do Gasômetro (Av. Presidente João Goulart, 551, Centro, Porto Alegre)

Entrada franca

Mostra de Cinema: 30 de abril a 5 de maio, na Sala P. F. Gastal – Usina do Gasômetro

Realização: Ministério da Cultura – Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, patrocínio da Petrobras e Cia. Energética Rio das Antas (Ceran), apoio da Prefeitura de Porto Alegre/Usina do Gasômetro, Arquivo Público de São Paulo e Arquivistas Sem Fronteiras/Brasil.








Sunday, April 21, 2013

O amor da repressão


O Chile enfrentava as nuvens negras da ditadura, quando Irene e Francisco encontraram-se. Ela, jornalista, moradora da casa para idosos “Vontade de Deus” – residência adaptada por sua mãe, Beatriz, para poder viver quando o pai de Irene as abandonou – tinha impresso em seu espírito a urgência de viver em liberdade. Ele, formado em psicologia, não conseguiu firmar-se na profissão de curador de mentes e, investiu sua vida profissional na atividade de fotógrafo. Vindo de uma família exilada pela ditadura de seu país, Francisco conhecia através de suas vivências infantis e, pelos depoimentos de seu pai, professor Leal, as cicatrizes deixadas por governos ditatoriais.

Trabalhando ambos na mesma empresa jornalística, era rotineira a saída de ambos, juntos, para o desenvolvimento de alguma pauta. E foi, quando buscavam falar sobre a menina dos milagres, Evangelina Ranquileo que encontraram as maiores histórias de dor e salvaram-se pelo amor.

Ao se envolverem com a milagreira, atividade que não era bem vista pelo governo militar latino americana, envolveram-se com o sumiço de Evangelina, a dor de sua família e a luta desenfreada pela busca do paradeiro da menina. Nesse ínterim, mais histórias paralelas compõem o romance “De Amor e de Sombra”, de Isabel Allende, traçando a tragédia que atingiu vidas durante o período ditatorial chileno, unindo humanos pela liberdade de ir e vir.

Escrito na década de 1980, “De Amor e de Sombra” nos faz refletir sobre nossos pares, visto que Irene, com sua irreverência, sentido de liberdade e comportamento feminista e justo, relacionava-se desde a infância com um rapaz que tornou-se militar. O noivo da morte, como era chamado por Francisco deixava sua amada por longos períodos para cumprir sua atividade profissional. Já Francisco, e seu senso libertário por imagens, pela justiça e pelos direitos humanos, estava ao lado de Irene quando foi descoberta não só a ossada de Evangelina Ranquileo, mas a de muitos outros ceifados da vida pelas mãos dos governantes. Por ironias do destino, no dia que Francisco e Irene encontraram os cadáveres na Gruta dos Riscos, a vida se apresentou para eles através do amor que ambos nutriam em segredo um pelo outro. E foi no limiar do encerramento de vida, que fez-se a construção de uma outra.

A repercussão da descoberta por Irene e Francisco, ultrapassou as fronteiras do Chile, ganhou o mundo e a mulher que encantava os idosos da casa onde vivia, se viu entre a vida e a morte. E, a reconstrução individual do casal, como a edificação dessa união, apresentou-se de maneira forçada, através do exílio.

Nessa escritura de Allende, mais uma vez, vemos que uma ditadura arranca do seio social pessoas que lutam por justiça e limita o ir e vir de cidadãos. Racha famílias, coloca pais e filhos, geograficamente, em lados oposto do globo terrestre. Mas, mesmo com toda sombra capaz de fazer, fica comprovado nessa história real, que jamais situações como essa, podem manchar um verdadeiro amor. 




Tuesday, March 19, 2013

História do Mobiliário – Da Antiguidade ao Design Contemporâneo



                         Foto: Cadeira de Salvador Dali. Século XX



Será realizada, a partir de 20 de abril, a oficina “Da Antiguidade ao Design Contemporâneo. O objetivo é tratar a produção do mobiliário da Antiguidade ao século XVIII; o processo de industrialização, no século XIX; os pioneiros do design e a Bauhaus; as correntes estilísticas na produção do móvel, nos século XX e início do século XXI.

A abordagem se dará através da análise de imagens vinculadas a cada período, e a utilização de recortes de filmes que podem contextualizar e reconstituir o ambiente e a utilização deste segmento.


Público Alvo: Designers, arquitetos, diretores de arte, cenógrafos, historiadores, estudantes e interessados em geral.


Serviço:

Local: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa
Rua: Rua dos Andradas, 959 - Porto Alegre/RS
Período: 20 de abril a 20 de julho de 2013
Sábados das 9h às 12h

Valor da inscrição: 290,00 ou 4 x R$ 85,00


Informações e inscrições: E-mail: marjanedeandrade@gmail.com

As vagas são limitadas!


Monday, March 18, 2013

PRÉ-ESTREIA E DIVULGAÇÃO DA PROGRAMAÇÃO da 6ª FestiPoa Literária



A FestiPoa Literária vem chegando na sua sexta edição. Até agora você já sabe que o homenageado da vez é Cristovão Tezza (autor do celebrado O Filho Eterno) e terá como anfitrião o professor e escritor Altair Martins (A Parede no Escuro e Enquanto Água). Mas as novidades não param por aí, temos quase uma centena de convidados - entre autores, críticos, teóricos e outros tantos amantes da literatura. E toda essa lista de participantes, encontros e oficinas já tem data para ser divulgada: dia 16 de abril (terça-feira), em grande evento no Teatro do SESC-RS, às 19h.

A Pré-estreia e divulgação da programação da 6ª FestiPoa Literária terá como atrações painel sobre a obra do homenageado Cristovão Tezza e apresentação da Orquestra Villa-Lobos. O painel será conduzido pelo jornalista Carlos André Moreira e pelo escritor Altair Martins. Já o concerto contará com a presença dos solistas Dudu Sperb, Leandro Maia e Pedrinho Figueiredo - a regência ficará por conta de Cecília R. Silveira.

O evento tem entrada franca

Serviço:

DIA 16/04 (TERÇA-FEIRA)
19h – Apresentação da programação
19h15 - Painel sobre a obra do homenageado CRISTOVÃO TEZZA. Convidados: ALTAIR MARTINS e CARLOS ANDRÉ MOREIRA.

20h – Apresentação da Orquestra Villa-Lobos, com participação dos solistas DUDU SPERB, LEANDRO MAIA e PEDRINHO FIGUEIREDO. Regência: CECÍLIA R. SILVEIRA. 
Teatro do SESC-RS - Av. Alberto Bins, 665. Telefone: (51) 3284 2070

ENTRADA FRANCA







[Fonte: Assessoria FestiPoa Literária]

Sunday, February 24, 2013

Bem-vinda, Emily Giffin


Em função da grande parte dos meus livros estarem encaixotados, ainda durante o mês de janeiro, fui à livraria e apostei em uma escritura que, conforme me disseram, estava fazendo sucesso. Eram três livros da mesma autora. Mas, preferi investir em um, apenas, para depois, se fosse o caso, adquirir aos demais. Entrei em férias e apostei em Emily Giffin. E, não havia nem terminado a leitura quando resolvi comprar os títulos disponíveis na Feira do Livro de Atlântida Sul. Fiquei extremamente surpresa com a forma de elaborar suas histórias e, ainda, com a forma em que expõem as tramas de seus personagens fictícios. Embora eu ache que Giffin tem certa obsessão por mães solteiras, independente disso, seu discurso nos faz repensar alguns valores, questões do dia a dia e acreditar que tudo é possível para aquele que crê e, além disso, se esforça.

Os livros Laços Inseparáveis, Presentes da Vida e Questões do Coração, estão longe de ser romance água com açúcar em tons de autoajuda. Já li os três e, em breve, farei a leitura de minha última aquisição de Giffin: Ame o que é Seu. Esse, comprei hoje e, após terminar minha atual leitura, será devorado.

Em Laços Inseparáveis, a história da produtora de TV Marian, intercala-se com a de sua filha dada para adoção, Kirby. Com um capitulo destinado à exposição do universo de cada uma, com ligações entre si, traz a cena o encontro de mãe e filha, após 18 anos. Kirby, mesmo vivendo em uma família que a faz feliz, ao completar a maioridade, foi em busca de sua mãe biológica. Ambas, no decorrer da trama, travaram uma busca com o passado não só de Kirby, mas das omissões de Marian, resultando em uma conclusão que modificou completamente seu futuro.


Confira alguns trechos da obra:

“Meu coração começou a acelerar. Será que ele contou para ela? Com certeza, ele não faria isso comigo. Mas o que ela queria dizer com essa frase, e me olhando desse jeito? Resolvi não culpá-lo, esperando que ela continuasse com sua lenga-lenga, imaginando que poderia aproveitar das suas histórias para colocar num roteiro. Eu já tinha feito isso antes.” (Marian)

“Ainda tenho cerca de oitenta quilômetros para percorrer na estrada I-55 e faltam cerca de noventa minutos na minha viagem de cinco horas. Até agora foi moleza. Só parei uma vez para colocar gasolina no tanque e usar o banheiro. Também me lembro de ligar para meus pais, lhes assegurando que estou muito bem, que o dia está ensolarado e claro, e com pouco tráfego. Meu pai lembra de ficar na pista da direita, não fazer ultrapassagens, evitar caminhos grandes e ficar longe do celular.” (Kirby)






Já em Presentes da Vida, a Relações Públicas Darcy, e toda sua antipatia, deixa para trás seu noivado com Dex para viver um intenso caso de amor com Marcus, melhor amigo de seu ex-noivo. O resultado foi uma gravidez solitária, já que Marcus não tinha o perfil de homem que abraçaria essa “bronca”. Sem rumo e, descobrindo que Dex tinha um caso com sua melhor amiga, Rachel, e com que mantiveram um relacionamento após o termino do noivado com Darcy, a protagonista muda o rumo de sua vida, deixando Nova York por Londres. Acomodada na casa de um amigo de escola, Ethan, a quem havia desdenhado na infância e que tinha uma sólida amizade com Rachel. Sem emprego e, tendo gasto todas as suas economias em roupas de marca, estava chegando a hora de levar a sério a gravidez. Com o auxílio de Ethan, ela elabora sua lista de mudanças e, no meio do caminho, descobre o amor que sente pelo amigo. Então, aquele filho “sem pai” que Darcy carrega em seu ventre, tem a chance de ganhar uma família.

Confira alguns trechos da obra:

“Eu sorri. Poderia não ter sido o melhor Dia de Ação de Graças do Ethan, mas eu estava certa de que aquele dia tinha me feito ganhar algumas semanas a mais em Londres. Ele ainda não me mandaria embora para casa.”

“Ajustei a minha cama para uma posição mais alta e depois ergui os meus braços, indicando que eu queria um abraço. Ethan se aproximou, o seu rosto ficou encostado no meu enquanto ele me envolvia com seus braços. Nesse abraço, simples, mas significativo, uma verdade foi confirmada no meu coração: eu estava apaixonada por Ethan.”






Por fim, em Questões do Coração, Valerie, mãe solteira de Charlie de seis anos, precisa encarar o fato de seu filho ter sofrido um acidente, em uma festa com amigos da escola, levando seu corpo a padecer queimaduras que precisaram ser tratadas com enxerto de pele. Com o auxílio do pediatra Nick, ela descobre a salvação para a doença de seu rebento e um paliativo para sua solidão. Por outro lado, vemos Tessa, esposa de Nick que percebe a mudança de hábitos do marido dentro de casa e, seu comportamento com ela. Ao descobrir a traição do marido, primeiro pelas amigas e depois confirmada pelo próprio Nick, ela precisa rever suas atitudes, inclusive o fato de ter deixado o mercado de trabalho para ser uma eximia esposa e dona de casa. Tanto pelo olhar discursivo de Valerie, quanto de Tessa, já que nessa obra os capítulos também são intercalados, vemos o mesmo homem, envolvido com duas mulheres e, mesmo sem voz ativa na escritura, desejar salvar seu casamento.

Confira alguns trechos da obra:

“Mas na manhã seguinte acordou se sentindo pior. Muito pior. Como se a decepção precisasse de uma noite para se concretizar. Perceber que Nick não voltaria mais, que não havia a possibilidade de um futuro, ou mesmo de outra noite juntos a fazia sentir dor em todo o corpo, como se estivesse com uma gripe. Saiu da cama, entrou no chuveiro e, então, passou por todos os passos de seu dia, amargando um vazio profundo porque não admitia sentir falta de alguém que fez parte de sua vida por tão pouco tempo. Era um vazio que ela sabia que jamais preencheria, nem ao menos tentaria preencher, pois não valia o sofrimento. Ela se perguntava quem havia sido o idiota que um dia disse que era melhor ter amado e perdido que nunca ter amado. Nunca havia discordado tanto de algo.” (Valerie)

“E então era véspera de Natal, e eu estava dirigindo à noite, nas ruas em sua maioria vazias, observando flocos de neve dançando nas luzes de meu farol. Eu tinha mais uma hora antes de poder ir para casa e já tinha esgotado todos os meus afazeres. Já havia comprado os últimos presentes para as crianças, devolvido os suéteres que havia comprado para Nick, parado na padaria para pegar as tortas que havia encomendado minutos antes de Nick voltar de sua caminhada em Common, incluindo a de creme de coco que ele ousou pedir para mim no dia anterior.” (Tessa)




Thursday, February 14, 2013

Sobre preconceito e superação


Há mais de 10 dias em férias, estou firme e, quase superando, minha meta de leitura. Após dois anos de mestrado, férias em tensão, ler romances era artigo de luxo. Por isso, esbaldo-me agora. Já foram quatro romances, sendo que esse post, pelo título escolhido, trará de três obras por mim sorvidas.

Odeio preconceito, em todos os sentidos e, talvez por isso, livros que nos façam pensar sobre essa bestialidade que é não aceitar quem não tem as mesmas opções que nós, me tocam profundamente. Afinal, o que é normalidade? A minha religião? A do outro? A minha opção sexual? A do outro? A de todos, já que originamos da mesma força divina. E superar o preconceito interno, o externo e viver de forma harmoniosa com o universo, é um desafio á todos nós. Começo, então, pela obra que foi a primeira a tratar de preconceito e superação.


Sem amor, Eu nada seria

Há muito procurava novelas que tratassem sobre o prisma espiritual a Segunda Guerra Mundial. Não sei se fiz uma busca falha, mas a verdade é que somente agora encontrei uma escritura que me satisfez um pouco. Digo um pouco porque eu nunca me contento com parcar informações. Um livro é sim, insuficiente para mim. Mas mergulhar nessa leitura me fez ver muita coisa por meio de outro ângulo. Assim, a obra “Sem amor eu nada seria”, psicografado por Américo Simões e ditado pelo espírito de Clara, ambientou a sanguinária Segunda Guerra, ou como conhecemos hoje o Holocausto, trazendo dados históricos e personagens que viveram nos dois lados da Europa, dividida por Hitler. E, deparamo-nos, então, com o amor de um alemão por uma judia. Viveck burlou a verdade nazista a qual havia se filiado, arriscando sua encarnação para esconder Sarah, seu grande amor, e o pai da judia.
Nesse período vivido por Sara em um convento, a história de Helena, freira alemã que, tendo tido um caso amoroso com um padre, e que deu a luz a um menino que ficou no convento sob os cuidados de Sara surge e, findada a guerra, ao pai da judia e o alemão, seu amor. Mas, ao deixar o convento, Helena deparou-se com o cenário fétido e estúpido proporcionado pelos nazistas. Um choro de bebê chamou sua atenção e, por uma ironia do destino, em sua trajetória de vida estava à responsabilidade de criar um menino judeu.

Findada a guerra, em agosto de 1945, as vidas desses personagens unem-se novamente, a partir de suas realidades e seus preconceitos. Judeu criado como cristão e cristão criado como judeu enfrentam-se. Uma obra que discute amores separados pela religião e põem em cheque o catolicismo a partir da atuação de seus seguidores.

Alguns trechos da obra:

“A fumaça do crematório podia ser vista de diversos pontos da cidade, despertando a atenção de todos. Quando mechas de cabelo dos mortos cremados saíam pela chaminé junto com a fumaça e iam parar nas ruas, o que foi chamado por muitos de neve negra, o programa T4 começou a enfrentar seus primeiros problemas.”

“Se você notar bem, todas as nossas indisposições com o próximo se dão por choque entre as diferenças de cada um, por não aceitarmos que o outro tem gosto e valores diferentes dos nossos. Quando se aceita, as rusgas se vão, o convívio é pacífico.”

“Não cabe a você realizar os sonhos, planos e intenções de uma outra pessoa, cabe a você, apenas, realizar os seus.”

“Ninguém pode exigir de si o que não tem condições, ainda, de se dar. E ninguém pode dar a alguém aquilo que ainda não pode dar a si próprio.”

“Só os mais sinceros consigo próprios e com a vida tem coragem de olhar para trás, perceber e assumir para si mesmo que Deus continuou sempre aos seu lado, mesmo quando parecia que não.”

“[...] Jesus tem de ser encarado por nós como um velho que não tem mais condições físicas de fazer tudo por nós, mas nos inspira a fazer. Sob sua luz não há quem não encontre a paz, coragem e disposição para superar qualquer obstáculo na vida.”








E o amor resistiu ao tempo

Em outra obra, escriturada pelo mesmo médium do livro acima e ditado pelo mesmo espírito, deparei-me com uma história que contava três encarnações de Pietro. Criança que nasceu com deformidade física, já que tinhas os pés virados para dentro, o menino foi entregue a uma instituição de caridade. Com a mão do destino, ele é encontrado pela tia, que o adota e o cria como filho, sabendo que ele é o rebento expurgado da vida familiar por sua irmã. Para superar sua diferença perante a sociedade, o dócil Pietro tornou-se um homem amoroso e músico conhecido no mundo inteiro. Rico, devido ao seu trabalho, o rapaz abrigou na sua casa, a família que um dia o deixou ao léu, mostrando que o amor resiste ao tempo.

Na encarnação seguinte, o mesmo rapaz nasce na Alemanha, mais especificamente no período ambientado no livro acima. Nazista convicto, sua função era “caçar” almas para serem exterminadas no programa T4, que ceifava a vida de crianças, jovens e adultos, com deformidades físicas. Até deparar-se com Caroline. Sua convicção de que pessoas com problemas físicos não servem para nada, sai de sua alma e, ele faz de tudo para salvar a vida da menina. O encanto entre os dois, que se deu quando ela estava na fila para entrar na câmara de gás, tem resposta na sua vida passada, quando Caroline foi a mãe que o abandonou. Fugindo do país para salvar a rapariga, ele leva consigo Raul, menino entregue por sua mãe para que fosse salvo do programa T4. A família desfeita antes, pelas mãos de Raul e Caroline, traçava, agora, uma vida de sobrevivência e superação juntos.

Na terceira e última parte, a seguinte reencarnação de Pietro surge no final da narrativa. Aqui, os personagens principais dessa escritura são Raul e Caroline que, precisam superar o preconceito interno para unidos criar sua família e dar frutos possíveis de resgatar traumas passados. Uma obra que faz jus ao título, mostrando que sim, o amor resiste ao tempo para aqueles que desejam fazer sua reforma íntima e vencer seus desafios internos e externos.


Alguns trechos da obra:

“[...] a vida é, na verdade, uma entidade que traça tudo perfeitamente para que possamos viver aquilo que nos fará crescer como ser humano, como algo mais nesse universo.”

“E o mais comovente naquele reencontro era saber que o amor, apesar de tudo que aconteceu no passado, resistiria ao tempo... Um tempo que atravessou vidas para transformar vidas em nome do amor.”

“É difícil mesmo descobrir que se valorizou algo além do seu devido valor. Mas a vida ensina e um dia liberta todos dessa estreita visão de vida para viverem finalmente a verdadeira grandeza da vida. [] Não que a matéria seja ruim, ela é importante, mas para nos facilitar e embelezar a vida, não para nos tornar escravos dela. O mesmo com relação ao dinheiro e à paixão.

“Quem não ama de verdade se desapega rapidinho. Quem permanece junto é porque amor existe. Mesmo que vivam entre tapas e beijos, algum amor há ali.”

“É o tempo presente que determina a nossa realidade e é só o que existe sempre. Por mais que você pense num futuro, quando estiver lá, ele (o futuro) continuará sendo o seu presente. [] Se o amanhã é o resultado do modo como você se trata no ‘aqui e agora’, então vamos procurar fazer desse ‘aqui e agora’ algo realmente proveitoso, valioso, garantindo assim um amanhã sempre melhor.”

As obras da Clara são há muito minhas preferidas leituras. Embora suas capas, esteticamente não sejam convidativas e, às vezes perceba que deveria ter havido uma maior revisão ortográfica, as histórias trazidas por esse espírito me tocam fundo.


Já a terceira obra que findei a leitura hoje, sim as demais foram antes, com certeza, veio através do romance de um médium que para mim tem virado referência de trabalho teórico e prática mediúnicos no século XXI.







O próximo minuto

Na escritura romanceada de 470 páginas, ditada pelo espírito Ângelo Inácio e psicografado por Robson Pinheiro, entramos no minuto de personagens que, mesmo vivendo em cidades diferentes, no mesmo minuto sofreram acidentes que os levaram em desdobramento, ou desencarne, ao mesmo ambiente espiritual. Vemos aqui, a prova de que homossexualidade é a coisa mais natural do mundo (aliás pra mim sempre foi), e que o preconceito sobre pessoas que amam seres do mesmo sexo é uma bestialidade.

Deparei-me aqui com a história de viventes que não assumiam sua opção afetiva por ter dentro de si arraigados conceitos produzidos pela sociedade e pela religião. Humanos que maltratavam gays e lésbicas por mascararem, através do machismo desmedido, sua real opção de vida. E ainda quem expulsou o próprio filho de casa, por esse ter negado Jesus por ser homossexual. Cada um em um ambiente comum em outra dimensão, já que tinham o preconceito enraizado em suas almas. Depararam-se, assim, com suas criações mentais e a necessidade de superação de suas agruras interiores com o auxílio da luz divina e de amigos e parentes espirituais. Alguns galgaram degraus, outros, precisaram retomar a caminhada de uma maneira mais dura para poder aceitar sua condição e respeitar o próximo. Se eu contar mais, entrego o enredo encantador do livro.

Alguns trechos da obra:

“A mente prisioneira da culpa, do remorso ou das angústias de uma existência mal definida ou mal resolvida exterioriza a paisagem íntima em torno de si. Da mesma forma, a mente sadia, que se esforça por cultivar emoções enobrecedoras e elevadas, projeta ao redor as imagens condizentes com a qualidade da vida mental superior.”

“[...] desejo e libido fazem parte da vida dos espíritos, tanto de desencarnados quanto dos homens. Ao desencarnar, a maioria esmagadora dos espíritos estagia numa dimensão tão próxima à realidade física que tudo ali reflete o mundo material porém melhorado e mais intenso em tudo. Ou o contrário se preferir: o mundo material reflete a dimensão astral, mas de maneira menos vívida e elaborada. A civilização e seus atributos – construções, desafios, descobertas, avanços, saber, ciência e modo de vida – constituem tão somente mero reflexo do que se vê do lado de cá da vida. Assim também as tendências, os desejos, e os impulsos humanos; todos estão latentes no espírito imortal. Entretanto, a forma como se manifestam e são satisfeitos é que muda de acordo com a dimensão em que se encontra o espírito após o desencarne. Em matéria de sexo, nada é diferente.”

“A recusa em vivenciar a vida sexual e afetiva, seja de que forma for que se manifeste, equivale a colocar barreiras à evolução e é uma prova viva de egoísmo. Agora, se considerarmos a existência de outros departamentos da vida universal, outros mundos e dimensões superiores, que somente nos séculos vindouros conheceremos a fundo e serão nosso habitat, aí poderemos entender que, nesses locais, o sexo deve se manifestar de maneira singular. Entretanto, isso só se dará após o espírito esgotar todas as possibilidades da vida no sentido mais humano possível, viver todas as experiências humanas de modo pacífico. Assim, quem sabe um dia experimentaremos sensações e emoções análogas, porém em ritmo e forma diferentes do que estamos habituados.”

“Sob esta ótica, podemos entender que toda prática, seja de ordem sexual ou não, quando levada ao excesso e transformada em compulsão ou vício, certamente prejudicará quem a adota.”

“Talvez aquilo que você chama de morte não seja exatamente o fim, mas uma oportunidade de recomeço, de reescrever a própria história de maneira mais elaborada.”

“Todos nós estamos no caminho, tentando acertar mais e errar um pouco menos. Mas desconheço, em qualquer lado da vida, quem não tenha errado de muitas maneiras. Portanto, seja bem-vindo ao time, à humanidade.”



Monday, January 28, 2013

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Impossível, nesse começo de semana, desejar bom dia, como faço diariamente. Frente ao amanhecer ensolarado de domingo, de brisa suave e de vida pulsante nas ruas, recebemos aqui na região sul notícias da fumaça mortífera que ceifou a vida de, até o momento, 248 jovens. Indivíduos no começo de sua caminhada profissional, humana, afetiva. Eles queriam apenas divertir-se, mas foram chamados de forma estúpida a vida espiritual.

Como espírita e credora na vida após a morte e, ainda, na reencarnação, compreendo que aos olhos de suas programações terrenas estava o termino de suas formas humanas, em matéria, programado para este fim, exatamente como foi. Porém, por mais compreensão que eu tenha do espiritismo, não vejo conforto na situação e, creio que dizer lamentável, horrível, inacreditável, são qualificações não cabíveis ao incêndio na casa noturna Kiss, de Santa Maria.

Assisti a notícia não apenas da morte de gaúchos como eu, mas de seres humanos e isso me dói como nativa do Rio Grande do Sul, me dói como ser humano passível da não compreensão frente ao fato. Eram pessoas, eram jovens que saíram para complementar felicidade e depararam-se com o fim de um ciclo. E esse fim de ciclo atinge a todos nós. Creio que todos os gaúchos morreram um pouco com a tragédia. Eu ao menos morri.

Santa Maria, a cidade onde tenho amigos e parentes, amanheceu fúnebre com toda a razão e, mesmo que pessoas próximas a mim não tenha sido diretamente atingidas pelo ocorrido, digo que lastimar é pouco frente à realidade obscura, em que um lindo dia de sol foi condensado pela fumaça da morte.

Não me cabe fazer especulações da incompetência dos profissionais do local. Mas me compete desejar paz aos que se foram e fé aos que ficaram. Sinceramente não consigo imaginar a existência de uma mãe que está vivendo essa situação surreal e terá que encarar essa realidade até o fim dos seus dias. A ordem da vida alterou-se para essas famílias e para todos nós.

Perdoem-me o egoísmo, o bairrismo ou como quiserem chamar, mas me sinto no direito de sentir essa dor e orar para que as equipes espirituais atendam os desencarnados, os encarnados diretamente ligados aos que partiram à pátria espiritual e a nós que temos essa mancha mortuária para absorver e seguir adiante. E, todos aqueles que de piada fizerem essa situação, minha mais sincera ignorância de sua existência.



Que a paz do senhor esteja conosco!





Tuesday, January 22, 2013

Ler, Viver e Amar




Eu não dava nada por esse livro, mas me surpreendi e ele me deu muito.


Reza a lenda, proferida pelos amantes da literatura e, consequentemente dos livros, que não se deve julgar uma obra pela capa. Eu julguei, mas como a minha cabeça andava pelas tabelas (parafraseando Chico Buarque), li a sinopse e comprei a escritura achando que seria uma leitura divertida mas que exigisse menos de mim. Ledo engano...

Ler, Viver e Amar, obra de Jennifer Kaufman e Karen Mack, editada pela Casa da Palavra, cumpriu seu papel: fez eu me identificar com a personagem, seu enredo, com as passagens e muito mais! Minha surpresa teve início quando me deparei com frases ótimas no começo de cada capítulo, sendo o primeiro uma citação de Jorge Luis Borges. Passei para a narrativa e, incrivelmente, não queria desgrudar! Dora, a balzaquiana e personagem central do volume, estava recuperando-se da separação, mesmo após um ano. Era compulsiva por livrarias e, logicamente, adquirir várias brochuras e, ainda, tomar porre de livros. Sim, porre literário. Em minha opinião e, confirmado por Dora, os melhores.

Ardentemente Dora desejava uma nova vida a partir de uma recolocação no mercado de trabalho, ela era jornalista; um novo amor, mas isso não era prioridade; vencer os traumas de infância e, criar seu próprio mundo. Além, é claro, de sua dedicação nas sempre horas vagas, o que no caso de Dora eram praticamente todos os dias, à porres literários. Submersa em sua banheira de espumas, acompanhada de um copo de vinho, a personagem fazia pilhas e pilhas de livro no seu refúgio, o banheiro, e ia sorvendo o líquido alcoolico e tinto, juntamente com as escrituras selecionadas para a ocasião. Atire a primeira pedra quem nunca buscou respostas nas páginas da ficção.

Identificações do meu “EU” a parte, volto a história de Dora, que se apaixonou por Fred, que trabalhava na livraria que ela ia diariamente e, era formado em Literatura. O romance que tinha ares de similaridade entre almas e corpos, desenrolou-se como um verdadeiro desastre, quando Dora assumiu porque quis, a oferta de amor à mãe e a sobrinha do namorado. Foi quando, da morte da irmã de Fred, drogada, ela deparou-se com o egoísmo masculino, aliás, muito visto nos dias de hoje.

Encontros frutíferos com o ex-marido, o surgimento de um freelancer para o Times aqui, outro ali. Dora começou a reescrever sua vida e, o livro no qual ela é a figura principal, trouxe um legado literário, a partir das contribuições dadas pelas autoras, ao inserir citações de grandes homens da literatura, dos comentários de Dora e, ainda, da lista de livros e autores usados para confecção da escritura, ao final das páginas fictícias. Identificações minhas à parte, confira alguns trechos da obra, dentre eles, o perfil do leitor, projetado por Dora e o ex-marido, Palmer.


“Não importa o que aconteça a você, Dora, você pode sempre escolher um livro.”

“No topo da lista estão os puristas – pessoas que leem com a finalidade de absorver o estilo literário elegantemente construído e saborear as brilhantes metáforas, os personagens inventivos, as figuras de linguagem empolgantes e os diálogos faiscantes. A história é um elemento alheio à questão.

... os acadêmicos – leitores que jamais superam realmente a forma como liam um livro nas aulas de inglês do primeiro semestre, sublinhando ou destacando, dobrando a orelha de determinadas páginas, procurando no dicionário as palavras com as quais não estão familiarizados e rabiscando comentários consistentes nas margens.

Os adoradores de livros vêm em seguida. Eles mantêm seus livros cobertos (e não por que são romances), usam marcadores de páginas e absolutamente nunca deixam o livro tocar o chão. Eles olham para o livro como se fosse um ser com sentimentos, um objeto de desejo vivo, que respira, que precisa ser tratado com absoluto respeito. Eles leem cada palavra, até mesmo as notas de rodapé de página.

Em seguida vêm os leitores que só querem uma boa história tradicional e tem certeza absoluta disso. Eles pulam os longos trechos descritivos, passam os olhos pelas digressões e concentram a atenção em quem, o que e onde até o último grau. Uma subcategoria destes inclui as pessoas que lêem livros em busca de sexo, violência ou qualquer outra propensão particular e fazem uma leitura rápida dos trechos que não os interessam.

O nível mais baixo da cadeia alimentar vem em seguida e inclui os leitores em busca de prestígio, um grupo de imitadores ridículos que não querem realmente ler o livro, mas sim ser visto com ele, como a notória jovem loura pendurada no braço de um magnata. Eles passam os olhos pelo livro para saber o enredo e o carregam por toda a parte como se fosse uma bolsa de grife. Ainda piores são as pessoas que ouvem audiolivros, a nova versão dos livros condensados, ou leem romances baseados em filmes em cartaz. Essas pessoas se consideram leitoras, mas não são. O mais irritante é quando elas entram em uma conversa e agem como se tivessem realmente lido. Eu incluo os leitores narcolépticos nessa categoria de não leitores. Pessoas que usam os livros como sonífero e estão com o mesmo exemplar pousado sobre a cabeceira da cama há seis meses. Também há os leitores de banheiro – você sabe, aqueles com prateleiras de revistas perto da privada com exemplares velhos.

Depois vêm os leitores que gostam de andar nas livrarias dos cafés acalentando capuccinos mornos, monopolizando a mesa durante horas enquanto ocasionalmente leem livros sem comprá-los, deixando-os em pilhas sobre a mesa para que os vendedores os recoloquem no lugar.

E não esqueçamos aqueles que nunca terminam um livro – pessoas que gostam de escolher livros, comprar livros, começar livros, mas o que eles não parecem conseguir fazer é terminar os livros. Eles constantemente enganam a si mesmos, pensando que esse é o livro que vão ler até o fim, e eu até acredito que eles estão bem-intencionados, mas assim como as dietas e as resoluções de ano novo, a vontade de perseverar normalmente desaparece. Devo confessar que às vezes acabo caindo nessa categoria.

A categoria mais frustrante de todas inclui pessoas que leem um livro e simplesmente não entendem. [...] Mas uma vez que eles lhe contam sua análise, não há realmente nada que você possa fazer a não ser mudar de assunto.”

“Um bom amante precisa saber conversar, seduzir, filosofar, ser poético, fofocar, confessar e elogiar. E ter o outro lado, o lado negro, o discurso obsceno, impróprio, que febrilmente descreve em sussurros e murmúrios cada movimento sensacional.”

“A coisa certa – há tantas escolhas diferentes no que se refere a essa questão. Sei que há momentos em que você está disposto a deixar tudo de lado por alguém que você ama e há momentos em que você não está. Os momentos em que você não está, muitas vezes, põem tudo em dúvida e definem o tipo de pessoa que você é. Meu ponto de vista é: você poderá conviver consigo mesmo quando faz tais escolhas? Fred parece estar perfeitamente bem.”

“Ele é um cara que abandona. O que não é nada bom no meu mundo.”

“Eu quero um emprego. Eu quero uma família que seja calorosa e que me ame. Eu quero ser normal e ter meu próprio lugar. Não me interessa se isso está soando burguês. É isso que eu quero. Pronto.”