Segundo Maria Romagnoli, escritora e pensadora, que escreve matérias para o site Visão Judaica, quando Margoth, irmã de Anne, foi chamada pela Gestapo, o pai das garotas viu que teria que viver com a família de forma clandestina, para que a filha mais velha não tivesse de atender a convocação dos nazistas. Com a ajuda de sua secretária e seu marido, Miep e Jan Guies, Otto Frank mudou-se com esposa e as duas filhas para o depois chamado Anexo Secreto, composto por dois ambiente e um banheiro, localizado na parte superior do seu próprio escritório. Ali eles viveram confinados durante dois anos na companhia de uma outra família, o casal Van Pels e o filho Peter, mais o dentista Fritz Pfeffer.
Em Amsterdã, na Holanda, o Anexo Secreto tornou-se o Museu Anne Frank. Há, ainda, o Instituto Anne Frank – organização não governamental e sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo a repressão do avanço anti-semitismo global, além do incentivo ao retorno dos judeus às suas origens em Eretz Yisrael (Terra de Israel).
Um ano antes do fim da guerra, o esconderijo foi descoberto e seus ocupantes levados para campos de concentração. As meninas foram encaminhadas para o de Bergen-Belsen. O diário de Anne teria ficado perdido no Anexo Secreto e foi achado por Miep, a secretária que providenciou o local. Mas as duas irmãs não resistiram ao confinamento dos nazistas. No ano de 1945, após a morte da Margoth, Anne perdeu suas forças e faleceu em seguida. As duas deram azar. Poucos dias após morrerem, a guerra estava finda e os prisioneiros libertados. O pai delas foi um dos poucos sobreviventes.
Em 1945, Miep devolveu a Otto o diário de sua filha. Com 99 anos e gozando de boa saúde, a protetora da menina escreveu outro livro: “O outro lado da história de Anne Frank”. Nele, ela conta como ajudou por dois anos as oito pessoas que viviam no esconderijo.
Otto Frank viveu até 1980 e fez a publicação do primeiro Diário em junho de 1947. Impulsionado pelos amigos, o pai de Anne conseguiu realizar o desejo de sua filha – ser uma escritora famosa. Dois meses antes da captura da família Frank e seus companheiros, a menina escutou um aviso pelo rádio que dizia que nenhum documento da guerra deveria ser destruído, para preservar assim sua memória. A própria Anne teve o cuidado de, neste período, revisar todo o material escrito, uma vez que sonhava escrever um romance, baseado em seu diário, após sair do Anexo Secreto. Miep, encontrou além do livro da menina, material escrito em folhas soltas, uma vez que após dois anos de clausuras, o diário original havia terminado.
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Veracidade do diário é contestada
Há mais de 20 anos existe uma polêmica sobre a veracidade do material. Robert Faurisson, especialista em análise de textos e documentos históricos, falecido em 1990, denunciou a impostura do Diário de Anne Frank. Através de exaustivas investigações e perícias, ele procurou demonstrar a fabricação do diário. Entendendo que esta falsificação histórica se transformou em “negócio escandaloso”. Para ele, “quanto mais se soluça, mais se ganha e quanto mais se ganha, mais se soluça” – sobre a ganância e o cinismo do Congresso Judaico. Já em 1959 o escritor Meyer Levin, que se apresentava como verdadeiro autor do Diário moveu uma ação contra Otto Frank por falta de pagamento. Na ocasião, especialista do American Council Letter atestaram que o Diário não era obra de uma adolescente.
O professor Jacques Alkalai Wainberg, observa que existem grupos que desejam apagar a memória da guerra e da barbárie, através de organizações contemporâneas. “Os documentos da Segunda Guerra são da humanidade e não só dos judeus. Fomos apenas vítimas”, contemporiza. Ficção ou não, esta foi uma forma de tocar as pessoas e os dados e memórias devem ser preservados, sejam reais ou não. O Diário de Anne Frank é conhecido no mundo todo, e deixa um legado para todos os povos, justamente por sua vítima ser uma criança inocente. Isso comove as pessoas, uma vez que se apresenta uma história dentro de mil histórias da época. Wainberg conclui que a mensagem é universal e todos podem aprender com isso. Afinal, como a própria Anne colocou na primeira página de seu Diário “espero confiar inteiramente em você, como jamais confiei em alguém até hoje, e espero que você venha a ser um grande apoio e um grande conforto para mim”. Sem saber, Anne já estava deixando seu legado mundial.