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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Sunday, April 21, 2013

O amor da repressão


O Chile enfrentava as nuvens negras da ditadura, quando Irene e Francisco encontraram-se. Ela, jornalista, moradora da casa para idosos “Vontade de Deus” – residência adaptada por sua mãe, Beatriz, para poder viver quando o pai de Irene as abandonou – tinha impresso em seu espírito a urgência de viver em liberdade. Ele, formado em psicologia, não conseguiu firmar-se na profissão de curador de mentes e, investiu sua vida profissional na atividade de fotógrafo. Vindo de uma família exilada pela ditadura de seu país, Francisco conhecia através de suas vivências infantis e, pelos depoimentos de seu pai, professor Leal, as cicatrizes deixadas por governos ditatoriais.

Trabalhando ambos na mesma empresa jornalística, era rotineira a saída de ambos, juntos, para o desenvolvimento de alguma pauta. E foi, quando buscavam falar sobre a menina dos milagres, Evangelina Ranquileo que encontraram as maiores histórias de dor e salvaram-se pelo amor.

Ao se envolverem com a milagreira, atividade que não era bem vista pelo governo militar latino americana, envolveram-se com o sumiço de Evangelina, a dor de sua família e a luta desenfreada pela busca do paradeiro da menina. Nesse ínterim, mais histórias paralelas compõem o romance “De Amor e de Sombra”, de Isabel Allende, traçando a tragédia que atingiu vidas durante o período ditatorial chileno, unindo humanos pela liberdade de ir e vir.

Escrito na década de 1980, “De Amor e de Sombra” nos faz refletir sobre nossos pares, visto que Irene, com sua irreverência, sentido de liberdade e comportamento feminista e justo, relacionava-se desde a infância com um rapaz que tornou-se militar. O noivo da morte, como era chamado por Francisco deixava sua amada por longos períodos para cumprir sua atividade profissional. Já Francisco, e seu senso libertário por imagens, pela justiça e pelos direitos humanos, estava ao lado de Irene quando foi descoberta não só a ossada de Evangelina Ranquileo, mas a de muitos outros ceifados da vida pelas mãos dos governantes. Por ironias do destino, no dia que Francisco e Irene encontraram os cadáveres na Gruta dos Riscos, a vida se apresentou para eles através do amor que ambos nutriam em segredo um pelo outro. E foi no limiar do encerramento de vida, que fez-se a construção de uma outra.

A repercussão da descoberta por Irene e Francisco, ultrapassou as fronteiras do Chile, ganhou o mundo e a mulher que encantava os idosos da casa onde vivia, se viu entre a vida e a morte. E, a reconstrução individual do casal, como a edificação dessa união, apresentou-se de maneira forçada, através do exílio.

Nessa escritura de Allende, mais uma vez, vemos que uma ditadura arranca do seio social pessoas que lutam por justiça e limita o ir e vir de cidadãos. Racha famílias, coloca pais e filhos, geograficamente, em lados oposto do globo terrestre. Mas, mesmo com toda sombra capaz de fazer, fica comprovado nessa história real, que jamais situações como essa, podem manchar um verdadeiro amor. 




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