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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Thursday, July 09, 2009

Fusão cultural no ensino superior

Por Bruna Silveira


















Estudar no exterior pode, ou não, ser uma boa vantagem ao currículo profissional. Assim como cada localidade tem suas peculiaridades, assim é o ensino. Vai de cada um escolher o seu caminho e ser competente no que faz.






























Absorver novas culturas. Essa é a proposta que deve ser o foco de quem vai ou vem estudar fora de sua terra natal. Com as peculiaridades de cada país e de cada região, pois às vezes são fragmentadas, o ensino superior forma somente uma visão que beneficie sua região, seja Itália, Portugal ou Brasil. Aqui no Brasil vemos a desvalorização de um profissional de Relações Públicas, ou em outros termos, não se reconhece sua competência primando pela habilitação que apresenta-se no diploma. “Os termos legais são diferentes em cada país, podemos dizer que são profissões diferentes. São saberes diferentes para o mercado de trabalho, como acontece por exemplo em algumas localidade da Europa”, explica Cláudia Peixoto de Moura, doutora em ciência da comunicação, professora dos cursos de graduação e pós-graduação e coordenadora do departamento de ciências da comunicação da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ela explica que em Portugal, por exemplo, a profissão de Relações Públicas é vista como Comunicação Institucional e o ensino superior desta área é focado para a região portuguesa. “Com o processo de Bolonha, o ensino em Portugal esta alterando-se. A partir disso as formações serão interdisciplinares. No Brasil já passamos desta fase e o poder curricular lá fora é diferente”, complementa. Ela ainda aponta que, com estas mudanças, as universidades portuguesas terão um perfil mais próximo das universidades estaduais do Brasil e que o ensino superior aqui nos país tropical, é mais avançado do que em outros lugares.
Quando há também uma profissão regulamentada, como ainda é o caso das Relações Públicas, a grade curricular das universidades reflete isso. Quando não há regulamentação, as pessoas buscam os cursos superiores para capacitarem-se além do exigido. Por cada região ter suas peculiaridades, a mobilização de estudantes entre nações, acrescenta de forma cultural a cada individuo, porém não garante mercado profissional. “Uma vez que cada curso, de acordo com sua região tem suas peculiaridades, algumas coisas vistas fora do Brasil podem levar o mesmo nome, mas não apresentar o mesmo conteúdo”, diz Cláudia. Assim como cada país prima pela contratação de seus conterrâneos e a entrada de estrangeiros em mercado estrangeiro é diferente. Isso vale tanto para o Brasil como para demais países.
Como cada faculdade monta sua grade de ensino de acordo com as necessidades profissionais de sua comunidade, o profissional formata sua competência ao ingressar no mercado de trabalho. “Isso ocorre principalmente em terras portuguesas. O saber acadêmico, assim como aqui, não é garantia de vaga no mercado de trabalho”, explana Cláudia. Ela ainda complementa dizendo que o saber não é o que diferencia um profissional de mercado e sim, o como ele aplica o conteúdo no mercado de trabalho a partir das influências de onde esta atuando.
Assim como, se um profissional estiver interessado em aprofundar-se na vida acadêmica, de docência, isso não é estimulado pelo currículo e sim por uma séria de fatores internos desta pessoa. Cláudia elucida que uma das questões é gostar de pesquisa. “Vemos isso, seja no Brasil ou não, que poucas cadeiras da faculdade incentivam as pesquisas acadêmicas. Quem não gosta mesmo disso, faz um mestrado ou um doutorado só para constar. Preenchem vagas de professores, mas fazem especializações por exigência e não para se dedicar efetivamente a pesquisas e aprofundamentos acadêmicos que contribuam efetivamente”, aponta. Em Portugal a cadeira de pesquisa pode ser uma opção ou não do aluno de graduação. Lá, a maioria dos cursos forma para o mercado. Poucas pessoas fazem a aplicabilidade, a união e a compreensão de teoria e prática. Apenas desenvolvem atividades de forma mecânica, sem o pensar e desta forma a produção de novos fenômenos fica limitada. “A intenção de profissionais da área acadêmica, como professores, mestres, é fazer com que o aluno se aproprie do conteúdo e transforme isso em uma ferramenta para que possa explicar a realidade”, garante. Mas para o sucesso de uma graduação, há que se levar em conta a competência de um corpo docente e de um corpo discente interessado.
A coordenadora ainda explica que cada país tem seus órgãos reguladores de ensino. No Brasil o Mec – Ministério da Educação – estabelece mecanismos de controle nas instituições de ensino superior e estas instituições apresentam hoje materiais que garantam suas renovações de registros, porém, no dia-a-dia, as coisas não procedem como no papel.
Finalizando ela ainda explica que o ser humano deve estar em constante atualização, seja de que área for. “Estudar é fundamental, a qualificação e o saber contêm o poder”.
Já na Itália, as capacitações são apresentadas aos interessados de forma diferente que no Brasil. Lá, existem escolas politécnicas e cursos de láurea, o que equivaleria a nosso curso superior aqui, explica Lana D’Avila Campanella, professora do Senac-RS e doutora em comunicação. Fazendo o curso de Relações Públicas na politécnica italiana o aluno leva dois anos, já o laureado tem a duração de três anos. Ambos são reconhecidos pelo Ferp – Federação Italiana das Relações Públicas, o que equivaleria ao Conselho Regional de Relações Públicas – CONRERP, no Brasil. Ambas formações italianas são aceitas pelo órgão regulador da profissão. No Brasil, somente o diploma garante o registro no CONRERP e o desenvolvimento da atividade de Relações Públicas. “Na Itália, o profissional opta qual curso fazer, se técnico ou láurea. Mas isso não é um filtro para atuar no mercado”, explica Lana.
Pela profissão de Relações Públicas não ser legitimada na Itália, quem atua, não necessariamente precisa estar ligado a Federação. Já no Brasil, para atuar na área é necessário o registro profissional após a conclusão da graduação. Fazer parte do FERP na Itália, é mostrar o interesse profissional. “Lá, mesmo os profissionais não sendo obrigados a vincularem-se à Federação, optam por isso, uma vez que quem faz parte precisa atualizar-se constantemente, o que, ai sim, garante um diferencial de mercado”, complementa Lana. Ao final de um ano, o Relações Públicas precisa comprovar dois cursos de atualização, das cinco opções gratuitas ofertadas pelo FERP. Essas qualificações anuais podem ser realizadas na Alemanha, regiões da Itália ou em outras localidades próximas. “Além disso, todas as temáticas oferecidas nestes cursos são contemporâneas, onde os assuntos são contextualizados de acordo com as necessidades da comunidade européia”, enfatiza Lana.
Na Itália, outro diferencial de quem busca o ensino superior, é a formação além das fronteiras, o que possibilita atuação em toda a Europa, além do seu país de formação. “Lá o currículo de ensino superior é abrangente, no Brasil ainda vemos grades curriculares que primam a atuação profissional somente dentro do Estado em que se vive. No Brasil, não há uma linha que norteie o ensino de Relações Públicas, cada faculdade tem sua autonomia de criar a grade, não havendo assim, uma diretriz para o curso”, aponta a professora. Isso resulta em profissionais que não se entendem. São Relações Públicas por formação, por terem o diploma, mas não tem a essência da profissão. “As formações parecem diferentes no Brasil”, adiciona.
Uma questão importante dentro da qualificação italiana, é que eles utilizam-se, além de uma diretriz clara, da teoria de mestres Italianos. Isso torna a profissão menos confusa para quem a escolhe. No Brasil as pessoas ainda brigam pelo título de Relações Públicas ainda sem saber exatamente a fundo sobre sua formação. Brigas de quem é o teórico mais importante são vistas no Brasil. “Eu dizia aos meus alunos, as lamentações e discussões devem parar. O profissional de hoje deve olhar para frente e ainda, mimetizar o que podemos buscar fora, adaptando-se a cultura brasileira e seguindo em frente ao invés de discutir nomenclaturas”, fala Lana.
Há quem diga ainda, que no Brasil a própria formação de Relações Publicas terá mudanças que deixarão o curso mais enxuto e que possa ser cursado em três anos.
A Itália conta hoje com somente três cursos superiores – Láurea – oferecidos, em detrimento a mais de 57 oferecidos em politécnicas. Embora com algumas diferenças no currículo, comungam algo incomum que é a atuação dos formandos em toda comunidade européia. Um localiza-se ao Sul da Sicília, o outro fica no extremo norte da Itália, a UDINE e o outro em Milão. Na UDINE, universidade de estudo de Lana, o aluno, em seu último ano de faculdade, escolhe seu expertise. Pode ser em Relações Públicas e a comunidade européia, planejamento estratégico, eventos dentre outros. A partir da escolha, as turmas se dividem e a pessoa torna-se especialista na área. Diferente que no Brasil, onde se vê um pouco de tudo. Lá ainda, há a diferença de o curso de Relações Públicas ser ligado a Comunicação e Política e não Comunicação Social.
Lana ainda aponta a falta de participação do conselho de regulamentação da profissão dentro da universidade, no caso brasileiro. Esta participação, segundo ela ajudaria a ver de que forma pode-se adequar e atualizar o currículo do ensino superior para que o aluno não fique tão solto durante sua formação.
Para alunos que ainda querem buscar um diferencial indo estudar na Europa e Estados Unidos, os programas Sócrates Erasmos e o Leonardo Da Vinci, que não englobam estudos na Itália, mas a partir de convênios entre universidades pode-se estudar na Alemanha ou Holanda ou em outro país conveniado. Com isso, o aluno pode em seu último semestre cursar disciplinas equivalentes fora e então, defender sua monografia no país de origem. Porém, a América Latina ainda não é contemplada para este tipo de intercâmbio. Além das aulas, quando os estudantes estão em outro país, são obrigados a fazer 4 horas de estágio. Os pré-requisitos para esta troca de país é dominar o idioma e um bom currículo acadêmico para então receber o aceite da universidade.
Porém, com todas as questões ainda não explicadas sobre a profissão de Relações Públicas no Brasil, há quem venha sorver os conhecimentos gaúchos. Sofia Gomes Machado, de 20 anos passou o primeiro semestre de 2009 em Porto Alegre estudando na UFRGS. Sofia conta que a profissão escolheu ela e não ela escolheu a profissão. “O método português de ingresso na faculdade é diferente. Não consegui entrar nem na minha primeira e segunda opção de curso. Isso me levou a terceira escolha: Relações Públicas. Não sei explicar esta opção, nem sabia na verdade o que era mesmo ser Relações Públicas. Hoje estou contente e satisfeita pelo curso ter, de alguma forma me escolhido, tem muito a ver comigo”, diz.
Através de uma bolsa de estudos, a estudante vinda de Fajã Grande, Ilha das Flores, Açores, Portugal, cursou as cadeiras de Comunicação e Atuação Profissional, Opinião Pública, Marketing Digital, Redação Publicitária, Inglês Instrumental, História da Imprensa e Introdução à Fotografia.
A escolha pelo Rio Grande do Sul, mais propriamente Porto Alegre, foi pela amizade que fez com uma gaúcha na Universidade dos Açores, onde Sofia estuda em Portugal. A instituição realiza o mesmo programa de intercambio para lá. “Ela me mostrou fotos e falou sobre a cidade, sobre a faculdade, e o mais importante sobre o currículo do curso. Achei fascinante e muito rico. Isso sim, foi decisivo”, complementa. Ela conta que ao iniciar o ano letivo da UFRGS ela foi bem recebida tanto por alunos quanto pelo corpo docente da faculdade. “Todos sempre estiveram muito disponíveis a me ajudar. Além do mais o ensino que tive este semestre difere muito do que tenho nos Açores. Aqui é muito menos rígido”, elucida.
Ela comenta que a experiência que teve aqui, além de ter mais flexibilidade acadêmica, as relações de professor e aluno são menos formais. Além disso, há maior variedade de disciplinas no currículo, comparando a grade de ensino dos Açores. “Outra coisa que me chamou a atenção foi que aqui não se paga para estudar na universidade pública, lá se paga às chamadas propinas” comenta.
A portuguesa ainda explica que a experiência a fez crescer como pessoa e como profissional. “Aqui aprendi a ter uma nova visão de Relações Públicas. Espero futuramente poder utilizar todos os conhecimentos que obtive”, complementa.
Além de todo esse intercâmbio cultural, Sofia fez um paralelo entre os currículos. Ela comenta que em Portugal o ensino superior pode entrar em decadência no futuro, pois cada vez mais graduados tem perdido o emprego, dando lugar assim a alunos das escolas técnicas, que tem ganho cada vez mais espaço no mercado de trabalho. “Em parte concordo com os empresários, em muitos cursos técnicos oferecem boa experiência prática. Já uma licenciatura, como a que faço em Portugal, são apresentadas aos alunos teorias infinitas e nenhuma relação prática. Como aluna do curso de Relações Públicas, sei a teoria, mas minhas dúvidas são como colocar tudo isso no mercado”, explana. Lá não há possibilidade de estágios durante o curso. O que acontece são portugueses saindo para o mercado com mais dificuldades de empregar-se e de conseguir se sustentar após sua formação. Ponto ao Brasil que proporciona esta interação de universidade-empresa.
Sofia ainda diz que, mesmo o ensino que teve neste seis meses em Porto Alegre ser menos exigente, ao comparar sua grade de currículos acadêmicos ela nota que o brasileiro é mais rico em conhecimentos sobre a profissão, com disciplinas mais focadas para o mercado, sem falar ainda da prática que pode ser desenvolvida durante a formação acadêmica. “Isso pode ainda ajudar a nós alunos, a aprendermos a ver o caminho que devemos seguir”, finaliza.
De um lado vemos universidades dando oportunidades de emprego à alunos durante seu período de graduação. Porém sem qualificação docente nada caminha como uma estrada retilínea. Isso tem ocorrido no Brasil e a troca de mestres universitários em detrimento de salários mais acessíveis é uma notória, assim como notória é a perda de qualidade de ensino. Por outro lado, vemos profissionais com sede de aprender, não só na academia, mas de vivenciar sua escolha profissional como um todo. Cidadãos do mundo ou não, a busca é cada vez mais do ser humano, de se aprimorar, de buscar informações e sugar o conhecimento acadêmico. Também, o período de graduação, pode ser um momento que possibilite a visão de que se o ensino tem suas multifaces é importante, quem sabe, agregar-se a ele e dedicar-se a uma carreira acadêmica contribuindo desta forma para a formação de uma nova sociedade, que talvez capacite o profissional para atuar em todo o seu território e não limitar-se a sua cidade ou Estado.

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