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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Tuesday, January 04, 2011

Antes da virada, tudo mudou

Por Bruna Silveira


Ressurjo após a temporada de recesso de final do ano. Foram oito dias de pernas pro ar, sol, suor, cerveja e outras coisinhas. Também houveram dias de chuva, dias tensos e de reflexão. Ah, claro, e os momentos em família.

Em uma destas tardes molhadas pela natureza, deitei no sofá da casa de praia dos meus pais e parecia que tinha entrado em um túnel do tempo. Lembrei de minha época de infância naquela casa, quando então tínhamos um janelão e portas azuis. Não havia grades e eu tinha plena certeza que às 15h iria brincar com a minha amiga Débora. Amizade cultivada até hoje. Apenas não brincamos mais... Lembrei de nossas invenções. Dos desfiles de moda que fazíamos com as roupas da mãe dela, a Tia Lulu, os cigarros do pai dela que escondíamos, o Tio Peki. De quando íamos para a praia achando que pegaríamos os melhores peixinhos do mar e que todos seriam nossos animais de estimação para todo e sempre. Os pobrezinhos morriam sem ar algumas horas após deixarmos o balde na área. Lembro de que afundávamos a grama do vizinho que se intrometeu a construir uma casa entre a nossa. Mas que no fim virou uma grande amizade e hoje sou dinda da filha da filha dele.

Naquele mesmo sofá onde eu estava sentada, por muitas e muitas tarde ficávamos penteando nossas bonecas. Depois conversando sobre os meninos da rua, da praia, do baile que íamos aos domingos. Ali, comemoramos nosso primeiro amor, nossa primeira dor de amor, nossas alegrias e tristezas. Dali, saímos de bicicleta em busca do desconhecido do balneário de Atlântida Sul, íamos desvendar os mistérios das dunas próximas à casa de outra amiga, a Fernanda. Dunas essas que jurávamos ter super-poderes, uma vez que perdemos ali os chinelos. Mas, certas de que aquelas areias guardariam segredos, lá nos escondíamos para comer picolé te Itu e sorver uma lata de leite condensado. Cada dia era um Leite Moça a menos na dispensa de nossas mães.

Dias antes da virada de 2010 para 2011, me dei por conta de quanta coisa parecia igual, como os quadros da parede. O piso, o sofá, mesmo com nova estampa. Mas quanta coisa havia mudado. Muita mesmo. Não só a distância da minha amiga, pois hoje ela está morando na Austrália, mas nunca mais tive tempo para sentar ali e conversar francamente com alguém. As brincadeiras sumiram, sim, eu cresci, ela também, mas podíamos ainda nos divertir. Vi a minha rua não ser mais minha. Pessoas extremamente desconhecidas eram transeuntes na minha janela, sim, o janelão encolheu e ficou amarelo. Nosso pátio tem grades e me resta sonhar em levar meus filhos ali e desejar que sejam tão felizes como eu fui. Sei que eles não farão amizades tão sólidas como eu fiz ali, afinal, tudo mudou por ali. Caminho na praia e reconheço poucas pessoas. Inclusive a casa da minha amiga será alugada no mês das minhas férias. Meus primos quase não vão, os vizinhos da frente já estão em outro plano da vida e até a casa de um grande amor que fiz ali, foi vendida. De tudo de bom que vivi, me restam às lembranças. O vazio de ver tudo mudar naquilo que pensava ser meu. E desejar que quando meus rebentos tenham a minha idade, cultivem recordações boas, como as minhas e entendam que a vida segue.

O ano vira, como sempre, mas as coisas mudam sem essa obrigação. Elas transformam-se durante o ano.

Como eu disse, a Débora hoje mora com a irmã e o namorado na Austrália e, graças a Internet nos falamos sempre. A Fernanda é advogada e única casada e com filho de nós três. Meu ex-amor perdi de vista pois ele já está no seu terceiro casamento. Mas, novas emoções virão, disso eu tenho certeza.

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