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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Monday, October 31, 2011

Imaginário fúnebre

Na terra, para tudo existe uma data. É dia das mães, dos pais, dos namorados, das crianças, dos avós, e, agora, até dos homens... Deve ter o dia da sogra também. Como não possuo uma, não sei dizer. Enfim, os apelos comerciais agendam a vida dos terráqueos, isso é fato!

Quem me conhece, sabe que não sou nem um pouco preconceituosa com escolhas religiosas, afetivas, mercadológicas e afins. Cada um sabe de si e, se nos relacionamos com livre-arbítrio, ou aceitamos o outro como é, ou pulamos fora dessa rede. Portanto, quem cultiva a prática do dia dos finados, que será “celebrada” na próxima quarta-feira, dia 02 de novembro, não se sinta ofendido com o meu discurso que segue.

Creio que, mais uma vez, há um tino bem comercial, e mais uma data criada pelo homem ao habitar o planeta azulzinho. O imaginário popular, e da grande maioria, crê ser pertinente homenagens póstumas à beira do mausoléu de seus antepassados. Perguntam ao pó e oram a ele. Colocam flores para enfeitar o jardim da última morada de ossos já carcomidos pelo tempo.

Eu, que creio na existência da alma, na imortalidade do espírito e na reencarnação, não consigo me apegar a esses ritos culturais. Acredito que como almas imortais, possuímos o universo e que, aqueles que amamos, sempre que são lembrados, sentem a energia carinhosa que enviamos. Quando amamos alguém de verdade, nunca no passar dos dias esquecemos-nos dos bons momentos, nunca deixamos de lado uma prece, uma reza, uma oração ou como quiserem intitular. E, tenho com isso, consciência de que não irei encontrar essas pessoas que não mais habitam o planeta, em dia e hora marcada em um cemitério sem almas. Na verdade, o enterro é apenas uma satisfação social, criada para e pelo homem. Os nossos restos mortais serão os mesmos, caso sejamos enterrados ou cremados. Ok, o cemitério traz mais higiene, se não, mortos estariam por todos os lados e as cidades mais fétidas do que já são. Para mim, essa função organizacional já basta!

Mas claro que um dia passei por uma situação, no mínimo curiosa, mas que me provou que ali não há mais nada, apenas o oco, que já está em nosso coração. A primeira vez que adentrei um cemitério, foi para velar e enterrar o corpo do meu avô. E, sim, ao ver seu caixão ser empurrado e tapado, senti um desespero tremendo. Contei os dias para a visita ao cemitério, quando então embelezaria sua lápide com as flores que ele tanto ama. No dia do encontro segundo com o vácuo, corri pelos corredores e num instinto cheguei em seu local de despojos. A alegria que me fez ir àquele ambeinte, sumiu ao obviamente eu me deparar com uma foto. Lógico! Santa bestialidade a minha, imaginar que ele estaria me esperando pro café da manhã. Foi ali, naquele momento, que me dei por conta que não me adiantava louvar sua carne em decomposição e, sim, me ligar à ele pelo amor, pela oração, pelos valores que ele me ensinou. Compreendi naquele momento que somos maiores do que nosso cativeiro carnal. Que o universo do Criador é nossa morada e que, diariamente, podemos prestar pequenas homenagens aos nossos amores que já estão na realidade. O fio que une os seres vem do coração, não da carne.

As flores podem enfeitar todos os momentos dos nossos seres queridos, basta que pensemos forte nisso. Nossas palavras de amor chegam aos seus ouvidos e, em seus corações, o nosso nobre sentimento. E, mesmo que já tenham reencarnado, sentem as energias positivas. Afinal, mortos estamos nós, com a alma cativa em um planeta desumano, por mais humano que possa parecer.

Que façam as procissões, as homenagens, o cantar de choro nos cemitérios do país, mas que, ao virarem as costas, permaneçam em vibrações de amor por aqueles que aqui não mais estão. Todo dia é dia de amarmos, de emanarmos energias positivas, de prestarmos pequenas homenagens possíveis pelo milagre da vida. Em uma era terrena de extremo consumo e caos imaginário, como diria Edgar Morin, "O problema da vida e da morte foi ocultado por esta agitação em que fomos envolvidos." Homenageie sempre!

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