1968.
Há muito desejava ler a obra de Zuenir Ventura: 1968 O Ano que não Terminou – A aventura de uma geração. Nesse livro-reportagem
entramos em contato com o melhor e o pior da história do país. Deparamos-nos
com uma geração de movimento e uma sociedade em ebulição cultural. Por outro
lado, a repressão tomando conta de todos os poros da doxa.
Há
dois anos puxei o livro da estante. Comecei a ler. Deu-me enjoo o contato com o
ambiente espúrio do Brasil dos anos de 1960, embora eu sempre tenha gostado de
estudar sobre esse período histórico, o ditatorial, para fazer minhas humildes
comparações com o Brasil dos anos 2000. Ditaduras diferentes, mas ainda assim
ditaduras, até porque hoje ela se apresenta de forma mais “velada”. No fritar
dos ovos, o período ditatorial também tinha em seu DNA o desejo exacerbado pelo
poder, movido pela ganância financeira. Hoje, só quem realmente não quer
entender, sabe que vivemos em uma ditadura econômica. A diferença é que ainda
estamos longe do pau de arara comandado pelo humano. Fisicamente falando,
lógico.
A
obra, que começa e termina em um ano novo, em proporções e alegrias diferentes,
me fez compreender outro lado do governo militar. Vi durante a leitura que,
nesse período de repressão, de corte de liberdade, em todos os sentidos, contávamos
com homens e mulheres de uma capacidade cavalar para criar cultura e contracultura.
De produzir música, literatura, teatro e afins de uma forma não mais vista no
século XXI. Lamentavelmente os militares governavam uma sociedade rica
culturalmente. Que soube, através da arte, expressar o seu descontentamento,
sua posição frente ao poder reinante, sem medo das consequências. Haja vista os
teatros fechados, o exílio de Chico Buarque e Caetano Veloso, que durante a
leitura descobri que tinham uma rixa, e o massacre dos estudantes, como a
passeata dos 100 Mil, após o assassinato de Edson Luís.
Muitas
histórias, muitas uniões culturais, muitos mal entendidos e amizades sendo
estabelecidas após o AI-5, o golpe dentro do golpe que realmente foi uma
carnificina social. Debrucei-me sobre a obra, como havia começado a dizer, por
me interessar pelo assunto. Mas, porque como das vezes anteriores em que
iniciei a leitura, não pude deixar de lado.
Explico-me:
desde que decidi rumar para o mestrado, e finalmente defini o tema de minha
dissertação, a Ditadura Militar passou a ser, ainda mais, parte integrante de
minhas leituras e estudos. Por utilizar o método de Hermenêutica de
Profundidade –HP – para analisar meu objeto de estudo, a Revista Realidade, é
obrigatório que eu mergulhe nos porões ditatoriais e em suas consequências. Uma
das etapas da HP é a análise sócio-história do córpus em estudo. Tomei, assim, vergonha na cara e me dediquei a
leitura que, não só acrescentará na primeira fase de cada reportagem analisada
como referência bibliográfica, como adicionou ainda mais entendimento sobre
esse período nublado, frio e sanguinolento, vivido em nosso país tropical.
Uma
leitura que deve ser feita, principalmente, pelos jovens de hoje. Para que
esses sejam capazes de tirar suas próprias conclusões sobre a história do
Brasil e, ainda, para que não se deixem entorpecer por aqueles que ainda querem
tapar com panos quentes a estupidez militar. Para fazermos o hoje, precisamos
conhecer o ontem e ver que, os motivos “sociais” que causaram lá em 1964 o
golpe de Jango (Reforma Agrária, estudantil e tantas outras), não foram
resolvidos nem dentro, nem fora da ditadura. Mas, as consequências estão aí. Vale
a leitura do 1968, o ano que realmente não terminou mas que, deixou além das
marcas brutais, um legado cultural gigantesco.
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