Acredito que há mais de dois anos tenho o mesmo sonho de consumo: uma casa no campo, na serra, no interior – qualquer lugar menos a capital – onde como dizia Elis Regina, possa receber meus amigos, cultivar minhas plantas e meus livros.
Por hora esse sonho é impossível. Para que essa singela casinha exista é necessário que se trabalhe antes, se junte dinheiro para então realizar o sonho. O que desejo para o dia de hoje, talvez eu concretize daqui 20, 30 anos, ou talvez nunca... Sei que o andar da vida às vezes dá voltas e os sonhos devem ser adaptados.
Mas em meu desejo essa casinha é tão simples, tão simples e esse sonho tão forte, mas tão forte, que chego a imaginar o local, o que teria em volta da casa, às flores que cultivaria – orquídeas com certeza fariam parte – e até a parreira igual a da casa do meu avô esta lá. Sem fazer esforço algum, enxergo o portão branco e um casal de labradores e seus filhotes a brincar na grama verde. O laguinho com as tartarugas...
Dentro visualizo a lareira, o sofá de couro e os pufes imitando pele de boi. As cortinas de crochê cor de creme, a mesa de madeira. Vejo a cozinha com as panelas penduradas e as lajotas com detalhes florais em azul e branco.
Vejo meu quarto, com uma janela-sacada onde posso contemplar o meu laguinho, meus cachorros e meus filhos brincando, lógico. Dois meninos, no mínimo. Vejo a poltrona onde me sento para ler, a cama gigante com mosqueteiro – sim gosto dessas “necessidades” do passado. A penteadeira com um espelho grande com moldura dourada.
E finalmente vejo a minha sala de livros. Não existem paredes, existem estantes de livros, apenas um espaço com uma janela. No meio uma escrivaninha xerife, meus papéis, uma máquina de escrever – sim, aprecio – um abajur, a foto da minha família e a felicidade entrando e saindo por todos os lados.
Não sei se seria plenamente feliz ali. Mas seria feliz. Buscaria a paz que todo mundo deseja, faria uma das coisas que mais gosto, ler e escrever. Cultivaria um amor, animais, flores. Ensinaria meus filhos. É, acho que seria feliz. E, para eu ser feliz nesse lá, nada melhor que começar a fazer agora. Para que então um dia eu me lembre do esforço que fiz para realizar esse sonho e consiga, durante o crescimento de meus filhos, mostrar à eles como às vezes as metas são simples, assim como os desejos, que os caminhos são tortuosos mas que, apesar de tudo, valem a pena.