Há meses precisava de dias assim: nublados, silenciosos e, que me oportunizassem dormir muito, e quando bem entendesse, ler, ver filmes e não ter compromisso com nada. Amo minha vida, mas a paradinha é necessária. Nesse feriado de 15 de novembro, onde se comemora a proclamação da República, feita pelo meu “tio bisavô” Marechal Deodoro da Fonseca, me dei tempo. Fui pro litoral, encarei quatro dias de frio, chuvisqueiro, silêncio e quase tédio. Descobri que não consigo relaxar como pensei que poderia, a vida agitada causa dependência, mas por outro lado, dormi tudo que precisava e não precisava, perdi o sono quase todas as madrugadas e, não fossem meus livros e filmes, eu teria passado todo o feriado queimando a “mufa”, pensando em tudo que preciso fazer na retomada da semana.
Porém, o resultado da sonoterapia foi satisfatório e, algumas das artes que me acompanharam nesses dias me fizeram pensar. E, deixo neste post a dica para quem se interessar.
Eu, meu irmão e nossa namorada
Bem mais profundo do que pode sugerir o título e a sinopse do filme. Dan, viúvo com três filhas, em uma das reuniões de família, encontra em uma livraria um novo amor. Mas claro, ele não contava que ela seria a nova namorada de seu irmão. Acostumado a abrir mão do seu próprio eu em virtude das filhas, da família e de seu trabalho de colunista, Dan segura ao máximo seus sentimentos. Marie, a namorada do irmão, também. Mas, como em todos os momentos da vida, chega a encruzilhada e, com ela, o caos que pode provocar ações não pensadas ou, pensadas em uma realização própria.
O que teria no futuro, um viúvo que vive apenas para a família, deixando de lado a oportunidade de ter uma nova chance de amar, ser amado e feliz? Nem só para os outros se vive, aliás, pensar em nós faz parte da caminhada terrena. Nosso auxilio ao próximo de nada vale se não estamos felizes. Só podemos dar algo a quem quer que seja se estamos dando algo para nós. Tomar essa decisão, principalmente para uma pessoa dedicada aos outros, que anulou sua vida pessoal, é muito difícil. Porém, quando a ação é sincera e nossa busca oportuniza encontro de almas, aprendizado, isso reflete nos que estão a nossa volta, por meio de uma convivência mais harmônica e, principalmente, quando damos o exemplo de força de vontade. Seja um amor, uma virada na carreira, um sonho pessoal, vale sempre a pena lutar, se abrir para vida, mesmo que isso implique em os outros não aceitarem esse novo comportamento. Contudo, se os laços que criamos a quem nos doamos são verdadeiros, existe compreensão e, se bobear, até um plus para chegarmos ao nosso destino.
Fatal
Adaptação do livro O animal agonizante, de Philip Roth. Logo no começo do filme feliz fiquei ao saber que o professor de literatura, critico literário e cultural, escritor e amante do não compromisso, abre suas aulas escrevendo o nome de Roland Barthes no quadro negro, da sala de aula, onde conhece Consuelo. Foi o mote para eu ver o filme por meio de signos. Enfim, Barthes é meu mestre da semiologia e, se já é difícil eu desvincular esses aprendizados do dia a dia, imagina vendo o nome dele grafado na tela (preciso fazer um post sobre esse semiólogo urgente!).
Enfim, conflituoso, isso resume o relacionamento de Consuelo e David. A cultura que povoava o interior desse professor, o tornava frio. Ele conhecia a arte, mas não a arte da vida. Por outro lado, a aluna também trazia um clima de tensão ao caso mantido por eles. A partir de um comportamento que parecia querer entregar-se, mas mantendo distância, Consuelo também tinha convicção da felicidade solitária. Tanto ela, quanto David tinham muito que aprender. Não foi por meio da arte e da poesia. Foi preciso, para isso, a perda da única afetividade que David possuía, seu amigo poeta, a reflexão solitária e a perda de Consuelo. À ela, além do fim do relacionamento, a lesão de um de seus atributos físicos que David mais amada: os seios, castigados por um câncer.
O relacionamento neurótico faz pensar, até que ponto 30 anos de diferença podem, ou não, influenciar em um relacionamento? Mesmo com um abismo de idade entre eles, um aprendeu com o outro, a arte do encontro de si para colocar em prática a arte do verdadeiro encontro humano.
Mais forte do que nunca
Demorou, devido as atribulações cotidianas, mas nesse feriado terminei a leitura da obra espírita, ditada pelo espírito Schellida, com psicografia de Eliana Machado Coelho. Um tema que me toca, o preconceito, permeia toda a narrativa desse livro. Não apenas uma questão, mas inúmeras. Indo do homossexualismo, e a dificuldade de aceitação de pessoas que seguem essa orientação sexual, que não deixam de ser seres humanos dignos de respeito, quanto o nascimento de uma criança com a Síndrome de Patau, uma doença onde o bebê chega ao mundo deformado, vive no máximo até os dez anos de idade e conta com inúmeras dificuldades imunológicas.
A transformação da vida cômoda de uma família, foi permeada por essas e outras questões que, no decorrer da obra, além de enredo, oportuniza explicações, orientações a, principalmente, aprendermos a aceitar o outro exatamente como ele é!
Recomendo a leitura para quem, assim como eu, é a favor da igualdade dos seres humanos.
2 comments:
Finalmente visitei teu blog.
Li apenas esta primeira página o que já me deu uma boa impressão (maaazzzááá!! que baita crítico, hein?).
Bela escrita!
Bjs
Ike, Ike teus comentários sempre tem valor!!! VALEU!!!
Post a Comment