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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Wednesday, October 29, 2008

*Do visível ao invisível – em busca da paz

Por Bruna Silveira




Quinta-feira, 1º de maio. Dia do trabalho. Quando muitos folgam, quem trabalha para a outra dimensão não pode deixar para depois. Às 15h, começava a sessão religiosa no Centro Espírita de Umbanda Nossa Senhora Aparecida. Localizada na rua Buarque de Macedo, a casa foi fundada em 1959 e tem sede própria.

Na frente, já se podia ver o burburinho de gente, sentada no jardim. Na entrada da casa de dois andares, havia um jardim com muitas flores, dois bancos e um gatinho, de verdade. Para fora do portão azul de ferro, mais pessoas se encontram, conversam, fumam e pensam. Dentro de poucos minutos, ali dentro da casa, poderão achar as soluções para o seu problema. No interior do recinto, a mesa da recepção, localizada à direita, contava com três pessoas para pegar a ficha. Atrás da mesa, um armário de madeira, com portas de vidro onde estavam guardados os livros. À direita da mesa, um quadro de Preto Velho. Na mesa de madeira do atendente Osmar, vestido todo de branco e com um colar de contas verdes claras, estavam as fichas de passe e de consulta, bem como um caderno aonde era feito os registros de entrada do público. O caderno de capa verde, pouco maior que o convencional, continha nome, endereço e o tipo de ajuda que a pessoa foi buscar.

Ainda no primeiro andar da casa, de frente para a mesa, havia uma parede que dividia os banheiros, masculino e feminino. E na parede fotos da corrente trabalhadora da casa. Ao fundo deste mesmo andar, localizava-se uma pequena livraria, uma fonte com luz e água e uma pequena lancheria. Ambas com pouco movimento, uma vez que o ponto principal do centro de umbanda ficava na parte superior da construção.

Subindo um lance de 20 degraus, estava o andar destinado para o atendimento. Dividido em duas partes, ao findar a escada, estavam bem dispostos nove bancos de madeira clara, cheios de gente. Na frente dos assentos havia uma divisão, como uma pequena grade de madeira, com entrada pelas laterais, cobertas com pano branco e flores. A parte de trás era o altar. Os trabalhadores da corrente já estavam presentes, todos vestidos de branco. Ao fundo do altar havia a imagem de uma cachoeira e em sua frente, no centro da pintura, uma cruz com colares de contas de diversas cores em volta das duas extremidades. Sob a pintura um quadro com os dizeres “Salve Jurema” e um pouco a direita, na mesma parede do fundo, um quadro com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que na umbanda tem o nome de Oxum.

Nas paredes, na parte interior do altar, havia abajures dispostos em luzes que são energizantes e contribuem com o trabalho. De ambos os lados, havia as cores lilás, azul, laranja claro, vermelho, amarelo e verde. Na entrada para o altar, a direita, localizava-se Olga, a ajudante e organizadora dos cultos. Sua função era de manter a ordem do lado de fora, para que as pessoas não falassem muito, e depois mediar o atendimento individual e as entradas no altar.

Às 14h50min, a corrente se formou em frente à cruz, em círculo. Com som ambiental e cheiros de insenso que lembravam o Oriente, de mãos dadas, os trabalhadores começaram a rezar e entoar cânticos ao povo de Aruanda, comunidade espiritual localizada na outra dimensão da vida. Um dos médiuns colocou-se à frente do público e leu uma mensagem sobre o amor a si e a confiança que cada um deve depositar em si, como fontes de vida que somos. Logo após, um a um dos médiuns foi incorporando e realizando passes – troca de energia – uns nos outros. Uma cerimônia limpa de se ver, sentia-se as energias do momento, e foi difícil muitos conterem a emoção. Após uma hora de saudação ao povo do oriente, foram abertos os trabalhos com estes seres. Olga explica que, geralmente o trabalho com as energias e seres do oriente visam a o equilíbrio da saúde. Naquele momento, mais de dez pessoas foram dispostas no altar, cada uma com um médium responsável, para receber atendimento ou fazer cirurgia astral.

O trabalho oriental durou cerca de uma hora. Logo após o encerramento, feito com todos os médiuns na frente da cruz, foi proferida uma oração de agradecimento às manifestações e ajudas concedidas, encerrando-se a primeira parte dos trabalhos daquela tarde.

Após breve intervalo, as 16h55min., mais da metade das mais de 40 pessoas que estavam no local, permaneciam em seus postos, atentas. Chegaria o grande momento, o trabalho com os pretos velhos. Com expectativas e agitação, o público que se misturava entre pessoas humildes e de classe, aguardava ansioso pelo momento com os seres mais queridos da dimensão astral. Os Pretos Velhos têm o dom de ajudar com amor, carinho e lindas palavras, afirmou uma senhora que estava ali desde as 13h30min.

Novamente, a corrente de médiuns reuniu-se em frente à cruz. Agora, mesmo dispostos em círculos não se deram as mãos, mas entoaram um canto alegre, canto de graças e louvor a este povo de Aruanda, aos pretos velhos, que trazem amor no coração. Não tem como não sentir novamente a energia. Parecia, inclusive, que ela tomava muito mais conta do ambiente do que os trabalhos anteriores. E em um rito de alegria e fé, um a um dos médiuns foram, mais uma vez incorporando, os homens e mulheres do amor, que voltaram, através do instrumento humano, da incorporação, para trazer graças e bem estar aos seus filhos.

Com um ritual mais rápido, após 10 min. os pretos e pretas velhas começam o trabalho. Dispostos em bancos com nomes, três dos médiuns realizam atendimento ao público e os outros 13 dão passes e passam a energia do amor e da sabedoria de preto velho.

Eu mesma tirei uma ficha para atendimento. Após esperar três pessoas, lá estava eu, de pés descalços, cara a cara com a Preta Manuela. De seus olhos e mãos saiam um amor imenso. No canto esquerdo do altar, sentada em seu banquinho, a preta acalmou meu coração. Me fez pensar na vida e me ofereceu caminhos para melhorar a qualidade dos meus dias. Com todo amor, o falando baixinho, sentia-se a energia boa e vibrante, as mãos consoladoras e, de verdade, o mal indo embora de minha vida. Após 15 min. de conversa, em que fiquei de joelhos na frente dela, em cima de uma toalha branquinha, a preta deixou seu recado de amor, e eu me fui.

Agora, só havia mais três pessoas para o atendimento. A sala estava calma, lá fora a noite já apontava os primeiros sinais. E o gatinho, estava ali, recebendo aquela chuva de bênçãos na casa de Nossa Senhora Aparecida.




*Perfil de Lugar

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