Desde que li A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, fiquei encantada com o estilo narrativo do autor e suas criações de suspense. Não demorou muito, após uma indicação, além do meu desejo desmedido de ler mais coisas dele, adquirir outras obras do escritor. Marina foi o segundo livro dele que me caiu nas mãos. E em menos de uma semana havia sido consumido vorazmente.
Menos encantador que A Sobra do Vento, por parecer bem mais fictício, Marina me conquistou com a trama sinistra criada por ela e Daniel. O livro, que começa pelo fim, traz a busca por aventura, de ambos os jovens, levando-os a caminhos de vida e morte, passando por bueiros da velha Barcelona. Despertou medos, amizades, distâncias, uniões e lembranças, que o tempo tratava de apagar.
Uma aventura alucinante, de Daniel e Marina, no mundo intrincado daqueles que vivem a margem social e querem vencer a morte, custe o que custar. No desenrolar da narrativa, o que parecia ao casal absurdo, a tentativa de Deus de Kolvenik, ao não “permitir a morte” e criar uma poção pra tal resultado, acaba sendo, ao final do enredo, o objetivo de Daniel. Mas, há que se ler a obra para compreender essa união de histórias, tão peculiar do discurso de Zafón.
Parto, agora, ansiosa, ao próximo livro do autor, o Jogo do Anjo.
Alguns fragmentos de Marina:
“Às vezes, contar a verdade não é uma boa ideia, Óscar.”
“Só as pessoas que tem um lugar para ir podem desaparecer.”
“Cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele.”
“Todos temos um segredo trancado a sete chaves no sótão da alma. Esse é o meu.”
“Entre pai e filha circulava uma corrente de afeto que ia muito além das palavras e dos gestos. Um vínculo de silêncio e olhares unia os dois nas sombras daquela casa, no final de uma rua esquecida, onde viviam afastados do mundo, um cuidando do outro.”
“- Está enganado. Aqui estão as lembranças de centenas de pessoas, suas vidas, seus sentimentos, suas ilusões, sua ausência, os sonhos que nunca conseguiram realizar, as decepções, os enganos e os amores não correspondidos que envenenam suas vidas... Tudo isso está aqui, preso para sempre.”
“Que tipo de ciência é essa, capaz de colocar um homem na lua, mas incapaz de colocar um pedaço de pão na mesa de cada ser humano?”
“A lembrança de Marina e da história horripilante que vivemos juntos me impelia de pensar, comer ou sustentar uma conversa coerente. Ela era a única pessoa com quem eu podia dividir minha angústia e a necessidade de sua presença chegava a me causar dor física. Queimava por dentro, e nada nem ninguém conseguia me aliviar. Transformei-me numa figura triste vagando pelos corredores. Minha sombra se fundia com as paredes. Os dias caíam como folhas mortas. Esperava receber um bilhete de Marina, um sinal de que desejava me ver de novo. Uma desculpa qualquer para correr para junto dela e romper a distância que nos separava e parecia crescer a cada dia. Nunca recebi nada. Consumi as horas percorrendo lugares onde tinha ido com Marina. Sentava nos bancos da Plaza Sarriá esperando vê-la passar...”
“Os bobos fazem perguntas bobas. Os espertos respondem. Em que parte está?”
No comments:
Post a Comment