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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Sunday, June 20, 2010

Cegueira preta

Por Bruna Silveira



Sim, tenho idéias de que somos mais cegos do que imaginamos ser. E, cabeças brilhantes estão deixando o mundo ainda mais cego quando se vão. Nos deixando mais órfãos e ao léu de mentes estúpidas que pensam somente em mediocridades.

Dentre todos os acontecimentos ruins de minha última sexta-feira (18 de junho), afirmo que me deixou chocada o fato de perdermos de vista José Saramago, mesmo ele estando com 87 anos. Da cegueira branca que ele propôs em sua obra Ensaio Sobre a Cegueira ficamos com os olhos estagnados em um universo preto e vazio.




Português ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1998, o polêmico escritor foi filho e neto de pessoas analfabetas. Comunista, desentendeu-se com o cortejo português e mudou-se para localidade de Tías, nas Ilhas Canárias, na Espanha, onde seus olhos foram vistos abertos pela última vez, na manhã de 18 de junho.









O mundo fica mais burro, mas estúpido e menos criativo. Ainda nos sobra Gabo, mas não teremos mais Saramago, aquele que mesmo contestando a igreja, por ela foi homenageado. O homem que não teve medo de escrever o que quis, que tinha pena de morrer, que encontrou o amor, em Pilar Del Rio, após os 60 anos, que não tinha curso superior, mas tinha sabedoria, vontade, força, o que falta para muitos de nós.








Há duas semanas havia comprado a biografia dele, escrita por João Marques Lopes, editada pela Leya. É o que nos resta do homem que desrespeitou as regras da pontuação, que trazia aos livros uma voz viva, própria de seu estilo saramaguiano. Resta-nos reler as obras, embebedar-nos com sua bibliografia e tentar ver o mundo além do que alcança nossos olhos, assim como Saramago fez.





Como disse Veríssimo: sorte dele que tinha um coração de ferro, por que nós, reles humanos, temos coração de músculo, um músculo que sangra todos os dias. Eu completo: o meu sangrou mais na sexta, por Saramago e demais perdas do dia.




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