A cada segundo domingo do ano, do mês de agosto, é dia de lembrar deles. Aqueles que mesmo sem útero, nos deram a vida, a oportunidade de vir ao planeta azulzinho e sermos alguém.
Alguns filhos não contam mais com sua presença física, alguns nunca os conhecerem e algumas pessoas felizes, como eu, ainda podem dar um abraço no “velho” neste dia.
Tirando a corrida comercial da data, pois quem tem pai todos os dias têm privilégio de poder abraçá-lo. Quem já teve, sabe que o dia é um mero detalhe. Mas o fato é: sempre iremos dedicar a eles uma atenção especial.
Em minha opinião, no meio de tantos que no Dia dos Pais publicam textos, o importante mesmo é o que eles deixam em nós. Clichê ou não, isso é verdade. Tem gente por ai que tem pai que nem presta atenção neles ou tem pessoas insensíveis que não dão à mínima atenção a figura masculina em nenhum dia do ano e tão pouco no dia de hoje.
Eu tive heróis e bandidos. Digo no plural pois meu avô foi um pai também. Sim, tive a sorte de ter dois. Hoje, o seu Paulo já habita outros orbes da vida, mas me ensinou a ser uma pessoa amorosa, me deu muitos abraços, me ensinou a amarrar os cadarços dos tênis, a jogar bola e a ver futebol. A ver corrida nas manhãs de domingo, a comer pinhão. Era dele a melhor mão do mundo, que afagava meus cabelos, mesmo quando ele não conseguia mais sair da cama, mas jamais deixava de ofertar carinho, amor e atenção. Era a primeira pessoa que eu corrida para ver ao chegar, quem eu cortava as unhas e fazia a barba. Quem me deixava de bunda para cima procurando a lente de contato que perdia sistematicamente e me pedia branquinho escondido. Ele deixou tatuado em minha alma seus ensinamentos de amor, de vida e de morte. Hoje nos encontramos de outra forma, nos amamos de outra maneira e ainda recebo muito cafuné na cabeça.
Já meu pai biológico e presente até os dias de hoje, me ensinou a ser alguém. Mesmo por toda sua ausência em minha infância, por todo o silêncio exigido nos finais de semana para que ele pudesse corrigir provas ele me ensinou a vida. A vida como ela é. Era quem eu esperava ansiosamente chegar todas as noites, que o sono por muitas vezes me fazia perder. Não era aquele que me dava abraços infinitos, mas que a sua maneira me ensinou a amar, me deu amor, me oportunizou a vida e está ao meu lado, até hoje, me ensinando que o tempo, pois é, este é um mero detalhe. Ao seu lado, momentos de gloria foram divididos, como minhas duas formações, momentos de dor, quando eu soube de sua doença e pensei que ele sucumbiria em depressão profunda. Ah, neste dia o subestimei: ele deu a volta por cima, sozinho e mostrou que devemos nos superar todos os dias, em todos os instantes e em todos os aspectos.
Mesmo ele tentando me fazer uma mini cópia dele, em alguns pontos ele falhou. Eu não optei pelas mesmas atividades, pelo mesmo jeito de fazer negócio. Mas optei por me espelhar em sua garra, em sua ética e honestidade, na escola da vida que ele me deu, em casa e em sala de aula, quando então ali, em classe, éramos apenas professor e aluna, mesmo sabendo que nossa ligação ia além e que até o ritmo de nossa respiração era o mesmo naqueles momentos e o são até hoje. Ele me conduziu a vida, ao mercado e ao amor, do seu jeito.
Com ele aprendi que não há limite para a superação, que uma mulher não é o sexo frágil e não pode entregar a sua vida na mão de um ser humano do sexo oposto. Com ele aprendi a trabalhar, a construir sonhos e a realizá-los. Entendi que uma das coisas mais prazerosas da vida é sermos feliz com nossas escolhas, sejam elas profissionais ou pessoais, mas mesmo que pareçam certas e depois não sejam, o importante é arriscar.
Aprendi que ensinar é a melhor cachaça do mundo e que as perdas nos trazem grandes oportunidades e que não se chamam derrotas e sim um novo começo.
Com o tempo também aprendi a olhar para ele como pai, como ser humano frágil que somos, frente às diversidades da vida. E mesmo olhando em seus olhos a decepção, via em seu rosto a serenidade da certeza de um dia após o outro. Afinal, um homem que veio sem recurso algum do Alegrete/RS e construiu a vida que construiu, não pode se entregar pros homens. E ele não se entrega. E isso é meu maior exemplo. É sermos mais do que podemos, fazermos mais do que está em nosso alcance e não desistir no primeiro obstáculo.
Sem ele, com certeza eu não seria nem metade do que sou hoje. Pois assim como ele me inspirou nas estradas da vida, também me mostrou aquilo que não quero para mim. Pai não é perfeito, é ser humano. Ele também foi meu bandido, e como sou dotada de livre arbítrio, também escolho deixar de fora de minha estrada aquilo que eu hoje penso não ser bacana. Afinal, ele me ensinou a pensar sozinha e não ser influenciada por ninguém.
Com seus 6.8, seu Fernando manda bem ainda em salas de aula, em casa, como pai, marido e, ele deseja que logo mais, como avô. Para isso deixo aos seus cuidados o Kikito, meu mascote de estimação. E hoje, mais do que nunca, desejo que eu seja como ele, seja uma professora da vida igual a ele. Alguém que vai além dos muros da escola, além do que se pode medir.
Hoje é o dia dos heróis, dos bandidos, de mães que se fazem de pai, de pais que às vezes também são mães, mas que estão unidos a seus filhos pelo amor, pela vida e pela eternidade.
2 comments:
Bruna. Muito lindo o teu texo.
congratulations!
Ana
Obrigada Ana!!!!
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