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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Thursday, September 06, 2012

O Prisioneiro do Céu



O último romance de Carlos Ruiz Safón chegou às livrarias do Brasil ainda no primeiro semestre do ano. E em minhas mãos também. Após ler A Sombra do Vento, Marina e o Jogo do Anjo, minha expectativa era máster. Ledo engano.

Zafón contrariou a lógica do suspense e mesmo trazendo à sua trama a família Sempere, Fermín, e seus agregados, fez uma mescla de narrativas que deixou o final sem muitas conclusões. Quero acreditar que em breve, muito em breve, algo venha complementar o que ficou faltando nesse romance do autor que se consagrou, nas outras obras, por sua literatura que aprisiona.

Refazendo os caminhos de Fermín, do tempo em que esteve em cárcere privado e trazendo Martin, o autor que figurou discursos no Jogo do Anjo, Zafón deixou para trás, no final da obra, alguns fechamentos. Colocou em cheque a fidelidade de Bea, esposa de Daniel, tão amigo de Firmin e, pouco falou do Cemitério dos Livros. Pela chamada feita nas orelhas da obra, acreditei que conheceria mais sobre esse local mágico, que ambienta todas as obras anteriores.

Achei pecaminoso em enredo. Pouco gritante nas letras em comparação com as demais obras encantam. Aposto em um próximo livro, mas envolvente. Não achei que fez jus a uma continuação de A Sombra do Vento, como indica a capa e sim uma mescla mal pensada. Acho que o autor, nessa obra, perdeu a mão.





Mesmo assim, confira alguns trechos de O Prisioneiro do Céu:



“Na contraluz da rua, a silhueta parecia um tronco açoitado pelo vento. O visitante usava um terno escuro, de corte antiquado e formava uma figura sinistra, apoiada numa bengala. Deu um passo à frente, mancando visivelmente. A claridade da lâmpada que ficava no balcão revelou um rosto marcado pelo tempo. O visitante ficou me observando alguns instantes, avaliando-me sem nenhuma pressa. Seu olhar tinha algo de ave de rapina, paciente e calculista.”

“As pessoas de alma pequena sempre tentam apequenar os demais, e o estranho, que parecia capaz de esconder suas intenções na ponta de um alfinete, me dedicou seu melhor olhar de desprezo."

“De um lado, viam-se barracões fechados com tábuas de madeira e, diante de uma garagem que parecia ter sido devorada pelas chamas, erguia-se uma casa que Valls supôs que fosse a antiga residência dos vigias. O brilho avermelhado de uma vela ou lampião a óleo lambia o contorno de uma das janelas fechadas. O senhor diretor observou a cena sem pressa, sentado no banco de trás do carro. Depois de vários minutos de espera, inclinou-se para a frente e falou com o motorista.”

“Fui para lá com o coração na mão. Não tinha a menor ideia do que ia dizer ou fazer quando encontrasse Bea com aquele sujeito. O maître veio a meu encontro e barrou minha passagem com um sorriso blindado. Seu olhar delatava uma franca desaprovação dos meus trajes.”

“- Eu sei. Mas sabe o que me da medo, dona Bea? Ser pouco para ele. Quando ele fica me olhando todo encantado e diz que quer ficar velhinho junto comigo e todas essas baboseiras que ele adora, sempre acho que um dia ele vai acordar de manhã, me olhar e pensar: ‘De onde será que tirei essa tonta’?” [Bernarda em diálogo com Bea]

“Passei a lâmina sob o barbante que segurava o papel de embrulho ao redor do volume e cortei. Com grande cuidado, afastei o papel até deixar o conteúdo à vista. Era um manuscrito. As páginas estavam sujas, manchadas de cera e de sangue. A primeira página exibia o título, traçado numa caligrafia diabólica.”

“Naquele dia, ao ver meu amigo beijar a mulher que amava, passou pela minha cabeça que aquele momento, aquele instante, roubado ao tempo e a Deus, valia todos os dias de miséria que nos levaram até ali e outros tantos que com certeza ainda nos esperavam ao regressar à vida. E que tudo quanto era decente e limpo e puro nesse mundo e tudo por que valia a pena continuar respirando estava naqueles lábios, naquelas mãos e no olhar daqueles dois felizardos que, eu soube com certeza, ficariam juntos até o fim de suas vidas.”


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