Por Bruna Silveira
Que eu sou louca por livros, já deu para perceber. Só não estou bem certa se aqui já falei sobre minha paixão por Livros-Reportagem. Sim, chega a ser insano o meu comportamento quando me deparo com eles em qualquer lugar, em uma livraria ou apenas quando alguém
me comenta algum título que não está em meu poder. Eu corro feito louca para a primeira livraria e, tento achá-lo. Se não tem, encomendo. Os dias parecem intermináveis na espera dessas preciosidades. Não é para menos que meu trabalho de conclusão do curso de jornalismo tenha sido sobre esse tema. Se a vida não me fosse curiosidade, nem teria feito jornalismo. Gosto do real. Aliás, como objeto de estudo da minha faculdade, analisei a obra Rota 66. A História da Polícia que Mata, do jornalista Caco Barcellos. Confesso que por Barcellos tenho uma queda que vai além dos seus livros. Aliás, quando passei as noites acompanhadas da imagem fictícia dele e de
frente com a realidade narrada em sua obra, ao término postei meu humilde comentário sobre o livro.
Passado um tempo, minha paixão por este trabalho jornalístico, os Livros-Reportagem, não diminuiu. Aumentou, e muito! No último mês, fora
m oito obras compradas. Dentre elas os livros da Ilana Casoy, um deles já lido e que ganhou uma postagem aqui e o do jornalista Celito de Grandi. Já tinha lido algo dele, o Romance de um Jornal, que trazia a história da empresa jornalística Diário de Notícias, de Porto Alegre. Agora, foi a vez de ler o seu lançamento: Caso Klimann. A História de uma Tragédia.
Terminada a leitura, no interminável feriado que se c
omemora a Proclamação da República, pelo meu ilustríssimo tio avô Marechal Deodoro da Fonseca, voltemos ao mote: o livro traz um crime, ou melhor dois crimes, executados na época da Ditadura. Será que mudou muita coisa de lá para cá? A Ditadura da época é algo mais mascarado hoje com a pseudo-democracia. Enfim, não é esse o mote deste post.
A questão central destas linhas, é sim, a obra que tr
az a tona o Caso Kliemann. Na busca incessante por informações, particularidade especial de jornalistas, De Grandi deixa nas entrelinhas o assassino de Margit Kliemann, a bela mulher do Deputado Estadual Eyclydes Kliemann. O casal, que já tinha sofrido a morte da filha mais velha, veio para a capital gaúcha cheio de sonhos, esperança e amor. Sim, o amor e a felicidade de Margit e Euvlydes era de dar inveja. Assim como o dinheiro que tinham, a casa, a vida feliz e a posição do Deputado.
Margir, brutalmente assassinada dentro de sua própria residência, de inferno seria, a partir dali, a vida de Kliemann e das três filhas: Suzana, Virgínia e Cristina. Com suas vidas ceifadas do aconchego familiar, Kliemann foi acusado de assassino. Não, não foi ele. Como disse, no prefácio, o futuro secretário da cultura de Porto Alegre, Luiz Antônio de Assis Brasil, o leitor atento desvendará o mistério de, afinal, quem é o assassino de Margit. Isso, quem ler, também descobrirá. A certeza é: não foi o marido.
Um ano depois da morte da esposa, friamente assassinado é Kliemann. Na sede da rádio Santa Cruz, o viúvo recebe um tiro a queima roupa de seu maior opositor político. Agora sim, a vida das três gurias estava quase enterrada. Brigas para cá e para lá, suas existências viraram uma montanha-russa. Fica uma com uma parte da família, ficam duas outras com outras pessoas. Até o momento do colégio interno e as meninas conseguirem tomar as rédeas de suas histórias. Confesso que estas biografias paralelas me chamam muito a atenção. Afinal, havia mais vida além das vidas já banidas da terra.
Em um apanhado documental, entrevistas com delegados da época, com as meninas, com jornalistas ainda vivos, com a reorganização do material de imprensa, De Grandi monta um novo cenário. Remonta a história que está aí para quem interessar possa, para quem gosta de ler e ao mesmo tempo compreender a vida. Livros-Reportagem tratam de vida real, auxiliam a construir paralelos de passado, presente e futuro. Isso é o que faz Celito de Grandi, proporciona entretenimento com realidade, por meio da obra de não ficção. Faz pensar, faz entender, faze refletir. Refletir o nós mesmos. E, se fossemos Margit? E, se fossemos ou Suzana, ou Virginia, ou Cristina? Se fossemos os pais de Margit? Os pais de Euclydes Kliemann. Se fossemos seus opositores? Se fossemos os delegados? A imprensada da época? Se fossemos seus assassinos? E, se...
Vale a leitura:
Caso Kliemann. A História de uma Tragédia.
De Celito De Grandi
Literalis, EDUNISC, 2010.
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