Há mais de 10 anos sou tachada de chata da família. Chega o final de ano, eu morro trabalhando, fazendo compras e não sou nem um pouco fã de Natal. Tá, Ano Novo até vá lá, mas o Natal... Nada contra o nascimento de Cristo, nada mesmo. Até porque, no comércio que virou a data, acho que se perdeu o espírito da coisa. Nunca vi comemorar Cristo com o bom velinho de vermelho, barbudo e recebendo milhares e milhares de pedidos. Crianças que aprendem errado, pedem coisas caras, a pedem tudo. Aliás, quando eu era criança, tinha pavor do tal Papai Noel.
Respeito quem gosta de Natal. Aliás, de minha infância tenho boas memórias, como as conversas com meu avô, antes da festa preparada pelos meus pais. Desde que seu Paulo se foi, o Natal perdeu toda a graça. E, depois dos tradicionais abraços em dindos, primas e pais, adorava sentar com ele e brincar com os brinquedos velhos. Ele me entendia. Ele estava ali. Hoje, o lugar vago parece estar latente demais para que eu possa suportar a noite de Natal de forma amena e tranquila. Daí, desde 1998 o Natal é estranho.
Sim, eu sei que tenho pessoas a minha volta. E dou toda a atenção a eles. O que não consigo, não mesmo, é saltitar. Uma que estou muito cansada devido ao excesso de trabalho de final de ano, outra que vou saltitar pra que? Pra comemorar o nascimento de Cristo com presentes? Sim, pela convenção faço isso. Mas acredito que todo mundo deveria repensar o que foi esse nascimento, o que Cristo fez por nós e tudo que deixou de legado.
Ok, eu sei que no dia 24 sairei como alucinada pela estrada rumo ao litoral. Arrumaremos tudo muito rápido, faremos a ceia com tudo que tem direito, com tudo como o meu avô gostava. Ele não estará de corpo ali, estará em alma, mas mesmo assim, não vejo graça. Sim, tirarei fotos, conversarei com minha família. Mas não pensem que por isso estou amando tudo isso.
Já o Ano Novo me parece uma festa menos triste, embora eu não acredite nessa de que vira o ano e a gente toma novas resoluções. Não, quem quer mudar o rumo de sua vida, seja no aspecto que for, fará isso em qualquer dia do ano. Apenas é uma contabilidade do calendário terreno, em que bebemos muita champagne (coisa que pode-se fazer também em qualquer época do ano), comemos, dançamos e fazemos oferendas a Yemanjá, pedindo 12 meses bons.
O que vejo de excelente em tudo isso é que as pessoas se abraçam com mais freqüência. Ao menos eu ganho mais abraço do meu pai nessa época do ano que em qualquer outra. Tai uma coisa que não faço sempre!
Mas, para finalizar minhas lamentações, não encerrarei com mais uma. Já que estamos falando da contabilidade dos anos, não posso mesmo reclamar de 2010. Ano em que conheci muita gente bacana. Me apaixonei, desapaixonei. Fiz amigos, descobri lobos em pele de cordeiro. Puxei as rédeas e tomei minha vida nas mãos. Me apaixonei por ela. Descobri meu rumo, resolvi fazer terapia e levar a sério. Me dediquei o que pude ao trabalho espiritual. Li mais do que pensei, menos do que queria. Fiquei mais tempo com meus pais, aprendi mais com eles. Vi meu cachorro envelhecer, ficar idoso, mas se recuperar dentro de seus limites. Vivi bem, vivi intensamente e não me arrependo de nada do que tenha feito, nada do que senti e nada do que me aconteceu. Como filha de Yemanjá, 2010 não me negou nada. O ano foi dela, foi meu e de muitos que sabem agarrar todas as oportunidades que a vida oferta.
Até 2011!
E, sim, ótimas festas!